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ACNUR preocupado com a catastrófica situação humanitária vivida em Palma


Moçambique, campo de deslocados 25 Junho, Metuge, Cabo Delgado
Moçambique, campo de deslocados 25 Junho, Metuge, Cabo Delgado

Trinta mil pessoas fugiram, mas os que ficaram passam fome e não podem sair

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) diz que está profundamente preocupado com as consequências humanitárias da rápida escalada da violência na província moçambicana de Cabo Delgado, após o último ataque que forçou a fuga de, pelo menos, 30 mil pessoas, da vila de Palma.

A vila, que é base de projectos bilionários de gás natural, foi atacada por insurgentes ligados ao Estado Islâmico, a 24 de Março.

Dezenas de pessoas, entre moçambicanos e estrangeiros, foram mortas e as que fugiram, na maioria, estão na capital Pemba, cidade sem capacidade para albergar mais refugiados.

Em consequência, a multinacional francesa Total, que lidera o projecto de gás natural, interrompeu as suas operações na região.

A ligação rodoviária, o acesso de jornalistas e a actuação de organizações humanitárias são limitados na região.

Além disso, prevalecem relatos de abuso contra os mais vulneráveis, que viram os poucos serviços básicos interrompidos.

“Estamos especialmente preocupados com a segurança e o bem-estar dos mais vulneráveis entre os deslocados, incluindo mulheres e crianças”, disse Babar Baloch, porta-voz do ACNUR, em Genebra.

Segundo Baloch, acredita-se que muitos mais ainda estejam impedidos de sair de Palma, e “os que fugiram enfrentaram barreiras significativas ao tentar alcançar a segurança dentro do país e ao tentarem cruzar as fronteiras”.

Centenas de crianças chegaram (aos centros de acomodação) traumatizadas e exaustas depois de serem separadas de suas famílias
Babar Baloch, porta-voz do ACNUR

“Algumas pessoas ainda estão a fugir de Palma, mas com apenas algumas rotas de evacuação abertas, estamos preocupados com os que não podem deixar a área”, disse Baloch.

Segundo Baloch, “em Quitunda, zona de Palma, o ACNUR recolheu recentemente relatos de graves abusos cometidos contra grupos vulneráveis, incluindo agressões físicas a pessoas que tentavam fugir para áreas mais seguras em barcos”.

Grande parte das vítimas de abuso são mulheres e crianças.

Moçambique: População regressa a Palma depois de ataque de insurgentes
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População impedida de sair

A situação de abusos é igualmente reportada pelo pesquisador inglês no seu boletim Mozambique News Reports & Clippings.

“Todos querem fugir, mas o Governo moçambicano não deixa ninguém sair”, lê-se no boletim de Hanlon, que sublinha que “efectivamente, eles estão a manter até 20 mil pessoas como reféns para tentar impedir o próximo ataque insurgente”.

Hanlon reporta que “as pessoas agora estão doentes e famintas, já que nenhuma ajuda humanitária internacional é permitida” na zona.

Dias após o ataque de 24 de Abril, as autoridades moçambicanas anunciaram que as suas forças armadas assumiram o controlo da vila de Palma.

Alguns milhares de residentes da vila de Palma estão albergados em Quitunda, na peninsula de Afungi, que tem uma forte presença militar e sem registo de ataques do grupo associado ao Estado Islâmico.

Mas, no seu boletim, Hanlon reporta que essa população, impedida de sair de Palma, continua atormentada, particulamente com a ocorrência de uma série de pequenos ataques e advertência de insurgentes no sentido de ter a zona evacuada.

Crianças traumatizadas

Os ataques contra vilas do norte de Cabo Delgado iniciaram-se em Outubro de 2017.

Mais de duas mil pessoas já foram mortas e mais de 700 mil forçadas a abandonar a região.

Muitos deslocados estão em distritos da província que consideram mais seguros.

Outros estão nas vizinhas províncias de Nampula, Niassa, Sofala e Zambézia.

As organizações humanitárias fazem repetidos apelos para angariação de mais fundos para a ajuda, que vai além da acomodação.

Segundo Baloch, “os que fogem da violência, chegam (aos centros) sem pertences, muitas vezes com problemas de saúde, incluindo lesões e desnutrição grave”.

“Centenas de crianças chegaram (aos centros de acomodação) traumatizadas e exaustas depois de serem separadas de suas famílias”, disse.

"Filhos da guerra": A dupla deslocação das vítimas do conflito (parte 1)
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