O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) diz que está profundamente preocupado com as consequências humanitárias da rápida escalada da violência na província moçambicana de Cabo Delgado, após o último ataque que forçou a fuga de, pelo menos, 30 mil pessoas, da vila de Palma.
A vila, que é base de projectos bilionários de gás natural, foi atacada por insurgentes ligados ao Estado Islâmico, a 24 de Março.
Dezenas de pessoas, entre moçambicanos e estrangeiros, foram mortas e as que fugiram, na maioria, estão na capital Pemba, cidade sem capacidade para albergar mais refugiados.
Em consequência, a multinacional francesa Total, que lidera o projecto de gás natural, interrompeu as suas operações na região.
A ligação rodoviária, o acesso de jornalistas e a actuação de organizações humanitárias são limitados na região.
Além disso, prevalecem relatos de abuso contra os mais vulneráveis, que viram os poucos serviços básicos interrompidos.
“Estamos especialmente preocupados com a segurança e o bem-estar dos mais vulneráveis entre os deslocados, incluindo mulheres e crianças”, disse Babar Baloch, porta-voz do ACNUR, em Genebra.
Segundo Baloch, acredita-se que muitos mais ainda estejam impedidos de sair de Palma, e “os que fugiram enfrentaram barreiras significativas ao tentar alcançar a segurança dentro do país e ao tentarem cruzar as fronteiras”.
Centenas de crianças chegaram (aos centros de acomodação) traumatizadas e exaustas depois de serem separadas de suas famíliasBabar Baloch, porta-voz do ACNUR
“Algumas pessoas ainda estão a fugir de Palma, mas com apenas algumas rotas de evacuação abertas, estamos preocupados com os que não podem deixar a área”, disse Baloch.
Segundo Baloch, “em Quitunda, zona de Palma, o ACNUR recolheu recentemente relatos de graves abusos cometidos contra grupos vulneráveis, incluindo agressões físicas a pessoas que tentavam fugir para áreas mais seguras em barcos”.
Grande parte das vítimas de abuso são mulheres e crianças.
População impedida de sair
A situação de abusos é igualmente reportada pelo pesquisador inglês no seu boletim Mozambique News Reports & Clippings.
“Todos querem fugir, mas o Governo moçambicano não deixa ninguém sair”, lê-se no boletim de Hanlon, que sublinha que “efectivamente, eles estão a manter até 20 mil pessoas como reféns para tentar impedir o próximo ataque insurgente”.
Hanlon reporta que “as pessoas agora estão doentes e famintas, já que nenhuma ajuda humanitária internacional é permitida” na zona.
Dias após o ataque de 24 de Abril, as autoridades moçambicanas anunciaram que as suas forças armadas assumiram o controlo da vila de Palma.
Alguns milhares de residentes da vila de Palma estão albergados em Quitunda, na peninsula de Afungi, que tem uma forte presença militar e sem registo de ataques do grupo associado ao Estado Islâmico.
Mas, no seu boletim, Hanlon reporta que essa população, impedida de sair de Palma, continua atormentada, particulamente com a ocorrência de uma série de pequenos ataques e advertência de insurgentes no sentido de ter a zona evacuada.
Crianças traumatizadas
Os ataques contra vilas do norte de Cabo Delgado iniciaram-se em Outubro de 2017.
Mais de duas mil pessoas já foram mortas e mais de 700 mil forçadas a abandonar a região.
Muitos deslocados estão em distritos da província que consideram mais seguros.
Outros estão nas vizinhas províncias de Nampula, Niassa, Sofala e Zambézia.
As organizações humanitárias fazem repetidos apelos para angariação de mais fundos para a ajuda, que vai além da acomodação.
Segundo Baloch, “os que fogem da violência, chegam (aos centros) sem pertences, muitas vezes com problemas de saúde, incluindo lesões e desnutrição grave”.
“Centenas de crianças chegaram (aos centros de acomodação) traumatizadas e exaustas depois de serem separadas de suas famílias”, disse.