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'A nossa imaginação foi violada', diz Koyo Kouoh; França promete devolver a arte africana


Estátuas do Reino de Daomé no Museu Quai Branly em Paris, Nov. 23, 2018.
Estátuas do Reino de Daomé no Museu Quai Branly em Paris, Nov. 23, 2018.

O Presidente francês Emmanuel Macron disse na sexta-feira, 8, que o seu país vai devolver 26 obras de arte africanas - tronos reais, altares cerimoniais, estátuas reverenciadas - ao Benin no final deste mês, parte dos planos há muito prometidos pela França de devolver obras de arte levadas de África durante a era colonial.

Há anos que decorrem discussões sobre a devolução das obras de arte do Reino do Daomé do século XIX. Chamados de "Tesouros de Abomey", eles actualmente são mantidos no Museu Quai Branly em Paris. O museu, perto da Torre Eiffel, guarda milhares de obras das ex-colónias francesas.

Macron disse que as 26 peças serão devolvidas no final de Outubro, “porque restituir essas obras à África é dar aos jovens africanos acesso à sua cultura”. Ainda não está claro quando exactamente chegarão ao Benin.

"Precisamos ser honestos conosco mesmos. Houve pilhagem colonial, é absolutamente verdade", disse Macron a um grupo de figuras culturais africanas em um encontro África-França na cidade de Montpellier, no sul do país. Ele observou que outras obras já foram devolvidas ao Senegal e Benin, e a restituição da arte à Costa do Marfim está planeada.

A curadora de arte Koyo Kouoh, nascida nos Camarões, pressionou Macron por mais esforços para corrigir os erros do passado.

"A nossa imaginação foi violada", disse ela.

"A África é casada com a França num casamento forçado há pelo menos 500 anos", disse Kouoh. "O trabalho (de consertar as relações) que deveria ter sido feito por décadas não foi feito. Não é possível que estejamos aqui em 2021."

Um relatório abrangente de 2018 encomendado por Macron recomendou que os museus franceses devolvessem as obras que foram tiradas sem consentimento, estimando que até 90% da arte africana está localizada fora do continente. Alguns outros países europeus estão a fazer esforços semelhantes.

Três anos depois, poucas obras de arte foram devolvidas. Para facilitar o repatriamento dos Tesouros de Abomey, o parlamento de França aprovou uma lei em Dezembro de 2020 permitindo que o estado entregasse as obras e dando-lhe até um ano para fazê-lo.

A reunião África-França na sexta-feira foi franca e ocasionalmente acalorada. Macron, que está a tentar criar uma nova estratégia francesa para a África. reuniu-se com centenas de empreendedores, líderes culturais e jovens africanos.

Palestrantes da Nigéria, Chade, Guiné e outros países tinham uma longa lista de demandas para a França: reparações por crimes coloniais, retirada das tropas francesas, investimento que contorna governos corruptos e uma postura mais dura em relação às ditaduras africanas.

Macron defendeu a presença militar da França no Mali e em outros países da região do Sahel como necessária para manter os terroristas afastados e recusou-se a desculpar-se pelo passado.

Mas ele reconheceu que a França tem uma "responsabilidade e dever" para com África por causa do seu papel no comércio de escravos e outros erros da era colonial. Observando que mais de 7 milhões de franceses têm um vínculo familiar com África, Macron disse que a França não pode construir o seu futuro a menos que "assuma sua africanidade".

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