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Darfur era considerado como o pior desastre humanitário no mundo


Até ao sismo e o maremoto de finais de Dezembro na Ásia, Darfur era considerado como o pior desastre humanitário no mundo. Mas uma professora universitária e também escritora afirma que a crise em Darfur tem sido mal descrita. Ela, afirma, deveria ser considerada uma guerra.

A professora Sarah Kenyon Lischer afirma que descrever Darfur como uma crise humanitária é estar a encobrir o que de facto ali acontece.

‘Não é apenas uma crise humanitária. É de facto uma guerra. O que a diferencia de um maremoto. Porque ao dizermos que era uma crise humanitária, governos e o Conselho de Segurança enviaram ajuda, actuando para resolver uma crise, quando o que está de facto a acontecer é um genocídio e uma guerra civil.’

A professora Lischer afirma que ”situações que apenas podem ser resolvidas de forma política ou mesmo pela via militar, podem ser agravadas com o envio de ajuda humanitária.” Por exemplo, as partes em guerra em Darfur têm roubado a ajuda humanitária.

‘Recentemente, foram desviados mais de uma dezena de camiões do programa Alimentar Mundial. E a ajuda que ia nesses camiões foi roubada. Os camiões foram, aparentemente, pintados e estão a ser usados pelos rebeldes para fins militares. Esta é uma forma óbvia de como a ajuda pode ser usada numa guerra -- quando é enviada sem protecção para uma zona de guerra.

Num artigo recente no jornal Christian Science Monitor, a professora Lischer escrevia que uma forma puramente humanitária de responder poderá agravar uma situação de guerra de três formas. ”Primeiro obscurece a importância estratégica e política das populações de refugiados que podem ser usadas como forças desestabilizadoras. Segundo, uma resposta humanitária dá força aos militantes e alimenta a economia de guerra.

E a terceira forma, acrescenta, sem protecção, os trabalhadores de ajuda tornam-se ”piões no conflito.” Nos últimos meses, grupos humanitários como a Save the Children e Médicos Sem Fronteiras viram funcionários seus serem mortos quer pela explosão de minas quer às mãos de homens armados.

‘Tudo porque são apenas enviados como representantes do mundo exterior para uma zona de guerra -- não para uma zona que está, de forma geral, pacífica, mas que sofre de um tremor-de-terra ou de um qualquer outro evento natural do género.’

A professora Lischer apela à comunidade internacional para dar mais apoio às tropas africanas que se encontram em Darfur -- tropas que descreve como tendo um mandato fraco em que apenas lhe permite observar mas não parar as atrocidades. Da mesma forma apela ao Conselho de Segurança para adoptar medidas duras que ajudem a pôr cobro ao genocídio e a outros crimes contra a Humanidade que se registam em Darfur. A resposta, nas suas palavras, tem sido mesquinha.

Da mesma forma está preocupada que o maremoto e o sismo na Ásia desviem agora a atenção da crise na zona ocidental do Sudão.

‘E isto é geralmente o que acontece. Não estou a dizer que a situação na Ásia não merece toda a atenção que gera. O problema é que a atenção mundial é geralmente limitada só conseguindo processar um ou dois desastres de cada vez.’

Palavras da professora Lischer, autora do livro, a ser publicado em breve: ”Santuários Perigosos: Campos de Refugiados, Guerra Civil e os Dilemas da Ajuda Humanitária.” O livro será publicado em Fevereiro.

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