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Democracia Americana: Os Primeiros 45 Anos


A campanha do General Charles Leclerc contra os insurrectos de Toussaint L´Ouverture, terminou no fiasco da fome e na hecatombe da febre amarela no Haiti, em 1802.Napoleão viu-se forçado a reconsiderar o seu dialogo com Thomas Jefferson sobre o futuro do seu plano para o novo império francês nas Américas: o Haiti e a Louisiana, em substituição do Canadá, perdido na chamada Guerra do Império com a Inglaterra, em 1763.

A guerra no Haiti se internacionalizara por tudo o que esta ilha Caribe, na posse da França, representava como parte da charneira de forças do trio imperial de sempre nas Caraíbas - a França, a Inglaterra e a Espanha. E agora também a América a espreitar, ansiosa para suas próprias. Xadrez complexo para Napoleão vencer. Para começar, o Primeiro Cônsul envia contra os independentistas de Toussaint, uma força sob a chefia de um dos generais da sua maior confiança (também seu cunhado, marido da Paulina, sua irmã) reforça a história.

Charles Leclerc que leva um mandado em três alíneas. Ocupar, primeiro, a costa da ilha - em quinze dias, não mais de vinte - mandava Napoleão. Abrir em seguida frentes convergentes contra os baluartes da resistência. A terceira missão seria na essência uma intriga: a saber, Leclerc não desse ao chefe da revolta, Toussaint L´Ouverture e aos seus comandantes a impressão de vencidos. Napoleão estava a tentar evitar a guerrilha que daí a pouco certamente iria resultar. Pelo contrário, Louverture e os seus generais seriam abordados em atmosfera descontraída assinando e reconhecendo os títulos que pretendessem; em seguida conviver com eles na qualidade pretendida de irmãos em armas.

Uma vez assim distraídos, algemá-los para a prisão e julgamento em França. Os revoltosos que não fossem negros - mandava ainda Napoleão - mantê-los sob prisão na ilha. A artimanha pegou, mas a guerra não terminou. Leclerc convenceu Toussaint L´Ouverture e o seu notório ajudante de campo, Jacques Dessalines e outros, a deporem as armas, que o fizeram, mas não antes sem luta. Finalmente, porém L ´Ouverture pareceu ter compreendido o argumento. Abandonou temporariamente a luta retirando-se para as suas terras. Leclerc prepara mais uma armadilha, a ultima como ordenava Bonaparte. O general francês fizera um convite por escrito ao chefe da revolta haitiana para um jantar afim de arejarem, os dois, importantes assuntos em directo, que não podiam ser discutidos doutra forma. O ”grande mestre da intriga construtiva”- ele próprio - como o chama uma página da nossa historia, Toussaint L ´Ouverture não suspeitou. Foi algemado e enviado a França para a cadeia.

Charles Leclerc pressentindo o pejo da vergonha futura na história deixou uma explicação do seu ardil. Toussaint foi preso, justificara-se Leclerc porque não aceitara a composição a que ele, Leclerc chegara com as suas forças e que as mesmas estavam novos levantamentos na ilha. O que podia ser verdade.

Toussaint L´Ouverture não era nada homem de louvaminhas de ocasião. Podia não ter aceite os alvitres do chefe militar francês. Todavia, e infelizmente para Napoleão, o Haiti e a Louisiana ficavam ainda sem solução como bases do futuro império na América. Napoleão preparava ao mesmo tempo uma esquadra para a ocupação directa do porto marítimo da Louisiana, Nova Orleães.

Donatien Rochambeau, nome de uma família famosa na história militar já da França pré-napoleónica. Mas tal como veio a resultar isto também não passava de um simples paliativo. Napoleão estava nas vésperas da grande concessão que iria fazer ao presidente americano, que não repousava também ele. Além da prisão de Toussaint L`Ouverture, pouco mais realizou Leclerc no Haiti para assegurar o estabelecimento de uma premissa territorial para o ambicionado esquema que o Primeiro Cônsul ambicionava nas Américas.

Faltava-lhe tudo. Além do açoite da febre amarela, Toussaint L´Ouverture e os seus faziam a guerra de terra queimada. Destruídas as plantações da ilha restava pouco nos campos além do lixo para varrer. O aperto forçara Leclerc a solicitar ajuda ao presidente americano, em Washington. Jefferson decidiu uma vez atirar sarcasmos ao enviado francês que o foi ver sobre a matéria. Louis -André Pichon o seu nome. O que é que, afinal, uma grande esquadra, mal equipada estará a fazer nas Caraíbas? Perguntou Jefferson que não se deixou desta feita impressionar pelo argumento - muito francês e napoleónico segundo o qual a luta dos negros nas Caraíbas constituía perigo também para a América esclavagista.

Verdade dita a América tinha as suas próprias soluções para o mal. De momento era a Louisiana que importava. Jefferson prometeu a ajuda. Mas não cumpriu. Para Leclerc o desfecho final veio quando as suas tropas, moídas pela febre amarela contra a qual não tinham qualquer sorte de imunidade ou protecção de meio ambiente, começaram a morrer aos milhares.

Num mês, diz a história morreram três mil soldados dos do regimento de Leclerc e mais outros milhares ainda dos que tinham recentemente desembarcado, restando uma centena apenas em camas dos hospitais de campanha superlotados. O resto dos que as febres e os revolucionários de Toussaint não mataram. Por ultimo, lá se foi o próprio Leclerc que se vinha debilitando também ele vitima destes mesmos acessos. Napoleão pondera um pouco mais. Voltaremos.

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