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A África no Século Dezanove ao Encontro da Europa - 2004-03-26


Ade Ajayi, de Ibadan, argumenta que a competição pelo comercio de escravos com os europeus na costa,não pode ser apontada como causa exclusiva ou mesmo principal do declínio e desintegração do Oyo nos séculos anteriores à ocupação colonial. Havia esta e mais razões, certamente, mais deprimentes: a colonial.

Dizíamos na conversa passada que Ade Ajayi não rejeita a tese do compatriota Akingjobin que liga a crise dinástica no Oyo antes da ocupação colonial à competição entre as classes comerciais mais altas do reino, os Oyo Mesi, Bashoruns e Kakanfos e os Alafins. Para Ajayi a desestabilização do reino yoruba, vinha das instituições internas. O historiador de Ibadan prova o seu ponto muito dentro do prisma da escola que dizíamos de Dar-es-Salaam, dita também revisionista de interpretação da História Africana.

Ajayi afirma que o comercio entre Africanos e Europeus, nunca foi privilégio exclusivo dos Alafins - para estes se demarcarem como alvo primário dos ataques e ciúmes da classe dos Bashoruns, Kakanfos, Oyo Mesi e Aremos, que neste processo de lutas acabavam por cingir a coroa do reino depois dos suicídios ditos constitucionais ou assassínios mandatados que Ajayi sugere serem eventos à maneira de reciclagens forçadas, tal as dos séculos seguintes das nações africanas formadas das cinzas do passado golpes militares ou ensaios de eleições democráticas, parcialmente bem ou mal sucedidas para justificar um novo ciclo de violência ou de mais ensaios à democracia. No seu sistema de ideias o historiador de Ibadan desdramatiza a importância do comercio na costa com os europeus como razão da crise dinástica do Oyo por uma das razões muito óbvia para ele. O comercio praticavam-no todos tanto os monarcas do Oyo como os do Dahomé, as classes comerciais yorubas, como as dahomeanas.

Recordarem-se aqui os ouvintes das guerras entre o Oyo e o Dahomé pela ocupação dos pontos principais da costa, entre os quais muito proeminentemente a praça comercial do Porto Novo em poder dos Yorubas desde a década dos 40, de 1700, guerra que não polarizou as classes sociais nos dois estados vizinhos, para se considerar esta classe de comercio como razão de peso da crise constitucional que abalava o Oyo já naquela mesma parte do século dezoito. O comércio de escravos com os europeus não era necessária ou principalmente, adianta Ade Ajayi, na óptica da escola a actividade dominante das trocas entre europeus e africanos naquela costa africana. Aqui começa a coisa a ser muito interessante. Ajayi fala e desenvolve a sua tese.

Recorda um dos capítulos mais esquecidos na historiografia das relações entre europeus e africanos durante os séculos anteriores à ocupação colonial capitulo esse mais tarde pedra angular da tese para justificar a cobiça da Europa na ocupação do Continente Africano culminando na Conferência de Berlim e parcelamento da África entre as potências europeias tanto aquelas que participaram no comercio esclavagista dos séculos anteriores como outras.

Ajayi esclarece que o comercio esclavagista não dominou nem esgotou as relações comerciais entre Africanos e Europeus naquela costa durante séculos e que ao fim ao cabo escravos não eram o que necessariamente os europeus vieram buscar entre os Africanos uma longa história e interessante esta tínhamos que a começar com os Portugueses no século quinze para a terminarmos com Bismarck em Berlim em 1885.

Mas cortámo-la aqui por imperativo do tema e contexto. A economia total dos yorubas do Oyo diz-nos o historiador de Ibadan dependia mais não das transacções com os Europeus mas antes dos ciclos periódicos de trocas regionais de produtos agrícolas - a agricultura, a ocupação principal dos yorubas mesmo no auge das influencias europeias na costa os intercâmbios regionais eram dominados ainda por uma forte dose manufactureira de varias denominações.

Os Yorubas conheciam e trabalhavam o ferro por exemplo do qual fabricavam as munições para a sua cavalaria, a cavalaria do Oyo de muita história na savana oeste africana admitindo muito embora que parte dos apetrechos militares importavam os Yorubas não dos europeus na costa mas do norte imediato das cidades hausas onde existia industria florescente destes mesmos artefactos que também eram importados pelas caravanas saharianas mais ao norte ainda. Havia ainda o comercio regional de têxteis de algodão sobretudo para vestuário e de mais produtos de uso domestico que animavam o comercio inter-regional yoruba. Para não esquecer os produtos da terra da floresta e do mar que não faziam parte do elenco das trocas com os europeus na costa.

Era o ouro, eram quantidades de madeiras das florestas regionais, a borracha, o óleo de palma, a cera, peles e mais coisas, muitas das quais fazendo parte já da história da abolição deste mesmo comercio de escravos como base do chamado ”comercio legitimo” em substituição da trata esclavagista tornada ”comercio ilegítimo” na ultima parte do século dezoito quando na Europa a nascente industria europeia começa a despertar interesse por estes mesmos produtos da África tropical.

A competição pelo comercio de escravos não pode ser apontada insiste Ade Ajayi como causa exclusiva, ou mesmo principal do declínio e desintegração do Oyo nos séculos anteriores à ocupação colonial. A nossa primeira escala. Diremos muito mais. Voltaremos

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