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Holocausto:  Diferendo entre Vaticano e Israel


Um dos assuntos mais difíceis entre o Vaticano e Israel é a alegação de muitos judeus de que o Papa Pio XII não fez o suficiente para evitar que os nazis matassem milhões de judeus durante a segunda guerra mundial. O Papa Bento XVI visitou hoje em Israel o memorial ao holocausto onde prestou homenagem as vítimas.

Esse ressentimento está reflectido no memorial Yad Vashem, onde apresentações gravadas contam, a mais de um milhão de pessoas que visitam o museu anualmente, as atrocidades cometidas pelos nazis contra os judeus.

Uma das exposições tem sido objecto de muita controvérsia. Discute pontos de vista de alguns judeus sobre o papel do Vaticano no holocausto. Uma citação gravada numa placa diz que o Papa da altura, Pio XII, não protestou contra as atrocidades, quer verbalmente quer por escrito, implicando que o Vaticano não fez nada para ajudar os judeus.

A Santa Sé contrapõe a reclamação, dizendo que Pio XII – com a Igreja Católica sob ameaça – trabalhou calma mas corajosamente para ajudar os judeus.

Testemunhos de alguns sobreviventes do holocausto afirmam que as acções do Papa – como o ter ordenado que judeus em fuga fossem escondidos em mosteiros, conventos e propriedades da Santa Sé – incluindo a Cidade do Vaticano e a residência papal de Verão em Castel Gandolfo – confirmam a ajuda do Vaticano.

Um memorando dos serviços secretos americanos em 1943 afirma que "o Vaticano tem aparentemente desde há muito tempo concedido assistência a muitos judeus para fugirem".

Notícias da altura dizem que o Papa fez uma série de chamadas telefónicas aos nazis para pararem a sua perseguição aos judeus.

Depois da guerra, uma série de proeminentes judeus, incluindo a futura primeira-ministra israelita Golda Meir e o físico Albert Einstein, expressaram a sua gratidão ao Papa e a Santa Sé pelos seus esforços para ajudar judeus.

Historiadores dizem que uma peça teatral de ficção em 1963, chamada "O Vice", escrita pelo pouco conhecido dramaturgo alemão Rolf Hochhuth, começou a mudar essa percepção ao retratar Pio XII como um colaborador frio das potências do Eixo.

Hoje, muitas pessoas em Israel – incluindo o rabino Lau – desconhecem os testemunhos a favor de Pio XII. Outros desconhecem também as mudanças que a Igreja Católica fez nos seus ensinamentos sobre o Holocausto, conhecido em hebreu por "Sho'ah".

O padre David Neuhaus, do Instituto Pontifício Bíblico em Jerusalém é um jesuíta de origem judaica que perdeu também familiares no Holocausto. O padre Neuhaus , um especialista em relações judaico-católicas, afirmou:

"Penso que possivelmente o mais importante passo em frente foi a capacidade da Igreja Católica de se auto-criticar, para se empenhar num processo de reavaliação e realizar que depois do "Sho-ah", que concerteza não foi causado pelos católicos, mas talvez pudesse não ter tido lugar se não houvesse essa alargada ideia do menosprezo dos judeus entre os cristãos. Depois da terrível descoberta do que o "Sho-ah" tinha sido de facto, houve um verdadeiro despertar."

A Igreja Católica pronunciou o anti-semitismo um pecado, acabou com o velho ensinamento de que os judeus mataram Cristo e tomou outras medidas conciliatórias.

A visita a Jerusalém em 2000 do Papa João Paulo II foi uma longa caminhada para reparar maus sentimentos. O Papa João Paulo II condenou a perseguição dos judeus pelos cristãos onde e quando tivesse tido lugar.

Muitos judeus, contudo, pensam que as acções – embora úteis – não são suficientes para abrandar a sua ira e dor. Alguns dentro da Igreja Católica, como o padre David Neuhaus, dizem não haver muito mais a fazer para reparar o passado.

"Para muitos judeus, o facto do Santo Padre e dos bispos não terem deixado as suas igrejas para se juntarem aos judeus, onde estavam, nos campos, a serem chacinados, serem queimados, apenas isso seria suficiente."

Como diz o rabino Lau, nada na Terra pode reparar o dano. Perguntaram-lhe se ainda tem ressentimento hoje em dia para com os cristãos da Polónia.

"Apenas posso acrescentar uma palavra a nossa conversa: Nunca esquecerei e não estou autorizado a perdoar."

Para ele e para muitos outros que relembram o Holocausto, a memória está ainda muito fresca e a dor é muito grande, para se fechar o capítulo.

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