Faleceu no Centro Médico da Universidade Duke, na Carolina do Norte, John Hope Franklin, académico de renome e pioneiro da história dos afro-americanos. Tinha 94 anos de idade. O homem e a sua obra, tema da nossa conversa na rubrica habitual: Democracia Americana
Para os estudiosos da Historia dos Afro-Americanos, a morte de John Hope Franklin pode-se comparar com o desaparecimento do seu ídolo, do nosso ídolo fica dito. John Hope Franklin deixou uma brecha difícil a preencher na historiografia afro-americana dos Estados Unidos. O seu lugar cabe ao lado dos grandes vultos desta disciplina William Du Bois, Carter Woodson e muito poucos mais.
O carvalho tombou ao peso dos seus 94 anos de idade. Não podíamos pedir mais as forças da natureza John Hope Franklin conheceu a história dos Negros na América a sua história - não apenas como académico - em documentos recônditos aonde a ia buscar, destrinçar e traduzir em linguagem cristalina acessível ao comum de todos nós, mas ainda viveu-a ele próprio desde os anos da sua infância em Oklahoma até ao fim.
Neto de um ex-escravo, John Franklin escreve na sua autobiografia ter visto supremacistas do seu estado porem fogo ao escritório do seu pai, advogado numa aldeia totalmente segregada de Tulsa, Oklahoma. Recebeu bolsa para ir estudar historia na prestigiosa Universidade de Harvard, em ma hora, quando sobreveio a grande depressão dos anos 30. Abandonar a carteira até que um benfeitor lhe empresta a soma que lhe trazia a promessa do seu regresso a Harvard:
"Um jovem branco…eu tinha vinte anos de idade…emprestou-me o dinheiro….apenas por te faltar o dinheiro…não podes abandonar a escola…e voltei para os meus estudos…seguro no bom caminho."
O que tornou famoso o nome deste académico de Oklahoma na América inteira foi e continua a ser o seu Opus Magnum, a sua Obra-prima na Historiografia Afro-americana, única no seu calibre e amplitude ate agora: "From Slavery to Freedom", Da Escravatura Para a Liberdade, livro de texto nos departamentos de historia das Universidades Americanas, desde há muito referencia obrigatória sobre vários temas da historia e predicamento do Negro na América, John Hope não se esqueceu de retratar na sua obra as contradições do grande Thomas Jefferson um dos ideólogos mais celebrados da Revolução independentista americana.
Assim escreve John Hope Franklin a respeito do autor da Declaração da Independência:
"Jefferson escreveu em 1776 que "todos os homens são criados iguais"…todavia em 1782…escreveu Jefferson "muitos homens há que não são iguais a muitos outros de muitas maneiras"…e que "os negros não pensam como os brancos"…e ainda que "os negros cheiram mal"…isto tudo …escreve John Hope…incutido no espírito do povo."
No entanto, John Hope Franklin não foi um activista. Dificilmente, para dizer nunca encontramos este académico nas marchas de Martin Luther King, ou outro dirigente dos direitos cívicos. O seu lugar, onde colheu os louros de maior fama foi sentado atrás das secretárias dos Departamentos de Historia das Universidades da América muitas das quais se recordam ainda de o terem tido como um dos seus mestres mais de nome e entre as caves da sempre acolhedora Biblioteca do Congresso, aqui na capital.
Um incidente na sua vida académica que não resisto a contar aconteceu ali. Estava John Hope a escrever na altura a sua Autobiografia. Os bibliotecários do Congresso uma vez intrigados quiseram saber o que esse estudioso vinha fazer ai ah porta todas as manhãs negro, entre poucos. A sua frase. Recusaram-lhe o acesso aos manuscritos até que lhes disse"para quê". Respondeu e disse que escrevia a sua autobiografia:"I am writing about myself"satisfez-lhes a curiosidade estou a escrever sobre mim próprio.
Em 1995 John Hope Franklin foi agraciado pelo Presidente Clinton, em reconhecimento da sua obra, pela mais alta medalha de honra que a Republica concede a um civil:
'O Presidente dos Estados Unidos da América vai conceder a Medalha Presidencial da Liberdade a John Hope Franklin."
John Hope Franklin…filho do Sul…tem desde sempre sido um compasso moral da América…apontando sempre em direcção da verdade…olhou para a historia sem pestanejar…John Hope Franklin disse-nos o que não desejaríamos ouvir… o racismo do norte e do sul….até aos confins pecaminosos da escravatura….
O mors ero mors tua…morsus tuus erro,inferne: ó morte serei a tua morte…e tu ó inferno…serei a tua vitima…não o inferno do desespero…mas de despedida e saudades adiadas para mais tarde a John Hope Franklin académico que foi da história entre os melhores desta arte.
Meminisse dolet. So long. Aqui fica o nosso adeus.