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Uma Campanha Como Nenhuma Outra


A campanha eleitoral de 2008 é uma campanha como nenhuma outra antes. Será que os americanos estão preparados para eleger uma mulher presidente? Ou um africano-americano?

Os cientistas políticos acreditam que há uma hipótese de uma delas se concretizar. “Este ano temos a garantia de que pelo menos no lado dos democratas haverá um candidato não convencional, com um historial diferente”.

As palavras são de Darrell West que lecciona Política na Esfera Pública na universidade de Brown e dirige ali um curso de Opinião Pública. Ele nota que nos anos 50, apenas 37% dos americanos teriam dito que poderiam votar por um candidato à presidência africano-americano. Nos anos 90, prossegue a percentagem dos que diriam que podiam votar num negro, numa mulher, num católico, ou num judeu para presidente chegava a 90%.

West reconhece que estas opiniões não são necessariamente sinal de preconceito contra candidatos de minorias. Diz ele que os eleitores podem dizer que votariam num negro ou numa mulher, mas que na privacidade do voto, farão de outra forma. Todavia, o padrão de votos nas últimas primárias convence West que houve uma mudança de atitude dos eleitores, pois 80 a 90% dos eleitores democratas votaram ou numa mulher ou num africano-americano

”Se apenas quisessem votar num homem branco, então o antigo candidato John Edwards seria esse candidato. Mas Edwards suspendeu a sua candidatura com apenas 10 a 15% nos estados onde concorreu. Penso que isto reflecte de facto não apenas uma mudança de atitude, mas de padrão de votação da parte da maioria dos americanos” - diz o cientista político.

O professor West pensa que os padrões de votação continuam a ser afectados fortemente pelo género e raça. Nota que Hillary Clinton é muito popular entre as mulheres no actual processo das primárias, que Barack Obama atrai grande apoio dos africanos-americanos. Todavia, nota, há mulheres a votarem por Obama como há africanos-americanos a votar por Hillary.

O professor detecta um grande fosso em termos de gerações no referente aos votos -- enquanto os que têm menos de 35 anos favorecem Obama e o apoiam em largo número, Hillary tem-se saído muito bem entre os eleitores com mais de 50 anos. Grande parte da mudança nos padrões de voto é atribuída pelo professor West ao que chama ”a fatiga de Bush” -- grande descontentamento entre os eleitores com sete anos de presidência de George W. Bush.

“Penso que Bush criou as bases para alargar o tipo de candidatos que se poderia ter porque há tanto descontentamento com o seu desempenho, que as pessoas estão dispostas a considerar alternativas que antes não fizeram. Os candidatos homens brancos não fizeram um trabalho muito bom em gerir o país. Pelo que os eleitores estão mais abertos a uma mulher presidente ou a um africano-americano”.

Mas alguns analistas mostram-se cautelosos com o caminho político ainda a trilhar. A professora Paula McClain, uma das directoras do Centro de Estudos da Raça, Etnicidade e Género na Universidade de Duke reconhece que há uma mudança de atitudes nos padrões de voto. Mas lembra como em década passadas como existiu a esperança de eleger um presidente africano-americano, e como essa esperança se esfumou - mais notoriamente, talvez, quando o activista dos direitos cívicos Jesse Jackson concorreu, em 1984, à Casa Branca, e que não passou disso mesmo, de uma tentativa.

“Será que se tem registado grandes mudanças em termos de raça nos Estados Unidos? A resposta é um redondo não. Será que isso se traduz em que uma grande parte da população estará disposta a votar num candidato negro? Não estou muito segura. Estou cautelosamente optimista - diz a professora - de que os Estados Unidos possam estar a seu tempo dispostos a eleger um presidente negro”.

A professora McClain acrescenta que as mais recentes sondagens mostram que entre os eleitores negros recenseados, Obama tem uma vantagem de 25 pontos relativamente a Hillary. Entre os democratas brancos, Hillary está à frente de Obama. McClain prevê que questões de raça -- em destaque nas primárias da Super Terça-Feira -- vão continuar a influenciar as campanhas dos dois rivais políticos até à Convenção do partido no final do Verao. McClain prevê que se Barack Obama ganhar a nomeação, questões relacionadas com a raça farão parte das questões da eleição geral, mas contra o candidato republicano. Caso seja Hillary a ganhar essa nomeação, acrescenta, serão questões do género que se transformarão em ponto de discussão.

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