O primeiro-ministro da Somália, Ali Mohamed Gedi, confirmou, numa entrevista exclusiva à VOA, a existência de uma coligação da oposição contra os actuais governos da Somália e da Etiópia.
Numa entrevista a VOA, o primeiro-ministro Gedi disse que o seu governo tem vindo a seguir de perto as actividades da recém criada coligação, para derrubar os governos da Somália e da Etiópia, patrocinada pela liderança política da Eritreia, país rival da Etiópia na chamada região do Corno de África.
No fim de semana último, a VOA tinha igualmente noticiado que a coligação, criada em Maio último, integrava pelo menos os quatro principais grupos opositores ao actual regime somali, a saber: a derrotado Tribunal Islâmico, a Frente de Libertação Nacional de Ogaden e os rebeldes da Frente de Libertação Oromo, na Etiópia, para além de opositores do governo de Adis Abeba e de Mogadixo, nomeadamente, antigos parlamentares etíopes e somalis.
O primeiro-ministro somali admite, por conseguinte, que um dos principais objectivos da coligação, sustentada pela Eritreia, visa o descarrilamento do governo de unidade nacional da Somália e a conferência nacional para a reconciliação nacional, iniciativa agendada para o próximo sábado, em Mogadixo:” Eles estão a levar a cabo actividades que visam fazer fracassar o processo de reconciliação. Quem está em Asmara, ao lado do governo da Eritreia ? Não estará, decerto, a cuidar dos interesses do povo Somália. Esses são os inimigos do povo somali e, por essa razão, decidiram formar a coligação. Uma aliança dos Tribunais Islâmicos e terroristas não voltará a reinar neste país”.
O governo interino da Somália assumiu o poder em Mogadixo em finais de Dezembro deste ano, depois de tropas da Etiópia terem liderado uma ofensiva que pôs fim a seis meses de liderança islamista.
Na determinada altura acreditava-se que a liderança dos Tribunais Islâmicos estivesse dividida entre a linha dura, que estabeleceu inclusive vínculos com grupos extremistas, nomeadamente com a rede terrorista Al Qaida, e os moderados, estes desafectos às posições mais radicais assumidas pelo movimento.
Durante vários meses, os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos instaram o governo Somali a iniciar o dialogo com o xeique Sharif Sheik Ahmed, o líder da ala moderada dos Tribunais Islâmicos, por forma a que os sectores mais moderados do movimento fossem incluídos na conferência para a reconciliação da Somália, uma iniciativa através da qual se pretende devolver a paz à Somália, depois de 16 anos de uma sangrenta guerra civil.
Mas, o primeiro ministro Gedi e outros funcionários governamentais somalis têm-se manifestado intransigentes face à ideia de dialogar ou de convidar os membros dos Tribunais Islâmicos para a conferência.
No fim de semana último, o líder somali notou, inclusive, que o xeique Ahmed tinha sido nomeado para a liderança política da nova coligação baseada na Eritreia, fechando, consequentemente, as portas à possibilidade de uma reconciliação entre o governo interino e a ala moderada dos Tribunais Islâmicos: “Eu não sei se, de facto, acredito na existência de moderados, que possam juntar-se ao processo de reconciliação”.
Muitos somalis, em Mogadixo, duvidam de um eventual sucesso da conferência para a reconciliação nacional, sem a inclusão e a participação dos líderes da oposição, naquele diálogo.
Isto, precisamente, numa altura em que centenas de apoiantes dos islamistas e nacionalistas somalis, descontentes com a presença das tropas etíopes no país, têm vindo a assumir o seu activismo perante a onda de violência na capital.