Links de Acesso

Senegal: Confrontos Ensombram Preparativos para as Presidenciais


Reputada internacionalmente, em termos de sucessão política e partidária, que decorrem de forma pacífica e um modelo da democracia em África, os eleitores no Senegal, irão as urnas já no próximo dia 25 de Fevereiro, para as eleições presidenciais, que poderão ditar a continuidade ou não do presidente Abdoulaye Wade, no poder, naquele país da África Ocidental.

Entretanto, no último fim de semana, a polícia de intervenção esmagou de forma violenta, uma manifestação convocada pelos partidos da oposição. Diga-se uma intervenção que não deixa de constituir uma mancha na credibilidade internacional da democracia senegalesa.

Marchas e manifestações de cariz político são relativamente comuns, no Senegal. Algumas com o prévio consentimento das autoridades senegalesas, outras não. Mas, relativamente à marcha convocada no fim de semana último pelos partidos da oposição, o desfecho foi outro.

Interditada inicialmente pelas autoridades, sob o argumento da necessidade de preservação da segurança pública, os líderes da oposição decidiram, mesmo assim, levar avante a iniciativa. E as autoridades reagiram de forma inesperada.

A polícia de intervenção teve que fazer recurso a gás lacrimogéneo e bastões para dispersar os manifestantes.

E os líderes da oposição envolvidos na marcha, alguns deles candidatos anunciados as eleições presidenciais agendadas para o próximo mês, foram temporariamente detidos.

Sidiki Kaba, uma das testemunhas da brutal intervenção das forças de segurança disse à VOA estar triste pelo estado a que a democracia no Senegal chegou

Kaba, que trabalha para a Federação Internacional dos Direitos Humanos, uma organização com sede em Paris, reconhece que o país conseguiu num passado progressos significativos, conquistas que, entretanto, e segundo este activista, têm estado a desmoronar-se.

Quando Abdulaye Wade foi eleito presidente em 2000, as eleições foram vistas como um sinal da maturidade da democracia no Senegal.

Na altura, o Partido Socialista aceitou a derrota eleitoral e entregou o poder a Wade e ao seu partido, o PDS.

O país foi palco de uma alternância pacífica do poder e o Senegal foi aplaudido pela comunidade internacional, pela sua devoção pelo primado da lei.

Mas, hoje, precisamente a menos de um mês das eleições presidenciais que poderão determinar a permanência ou a sucessão de Abdoulaye Wade, no poder, naquele país da África Ocidental, esse compromisso com o primado da lei, tem estado, em certa medida, a ser relegado para um segundo plano.

E a manifestação do último fim de semana, fora convocada pela oposição, precisamente para protestar contra os sucessivos adiamentos a que as datas das eleições no Senegal, têm sido sujeitas.

Recorde-se que as eleições, que deveriam ter tido lugar em 2005, foram canceladas já que o presidente Abdolulaye Wade entendeu que o país, então a braços com as cheias, não estava a em condições de arcar com os custos de um processo eleitoral do género.

Há escassas semanas, as eleições legislativas, que deveriam ser realizadas em simultâneo com as presidenciais, foram adiadas mais uma vez, depois do Supremo Tribunal ter deliberado que o mapa eleitoral concebido pelo partido no poder estava a partida viciado.

Moussa Taye, do Partido Socialista Senegalês diz que as pessoas entendem a preocupação do presidente Abdoulaye Wade no adiamento das eleições, como algo decorrente do actual estado da economia, que lhe poderia partida, custar votos: “Democracia significa eleições. Mas, quando as eleições são adiadas, ficamos com a sensação de que essas eleições podem ser, inclusive, canceladas”.

Em reacção aos rumores e suspeitas levantadas pela imprensa senegalesa, no sentido de que o governo tenciona retardar o quanto possível as eleições presidenciais, o partido no poder, o PDS garantiu aos jornalistas que as eleições terão lugar, tal como agendadas, a 25 de Fevereiro próximo.

O partido no poder no Senegal tem vindo a ser criticado por estar constantemente a alterar as regras do jogo eleitoral, a favor da candidatura do presidente Abdolulaye Wade.

O partido do presidente Wade tem vindo a ser contestado pela recente aprovação de uma medida parlamentar que deixa a partida cair definitivamente a clausula eleitoral que prevê que qualquer candidato só conseguirá ser eleito à primeira volta, se obtiver mais de 50 por cento dos votos expressos nas urnas.

Para a oposição, uma artimanha que tem por propósito, evitar uma eventual segunda volta das eleições presidenciais.

Esta alteração foi conseguida alguns meses antes das eleições presidenciais, isto apesar do compromisso assumido pelas autoridades senegalesas, perante a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, a CEDEAO, de não alterar as regras eleitorais a seis meses da realização das eleições.

Ouçamos, a propósito, a opinião de Moussa Taye, do Partido Socialista:“Abdoulaye Wade que é membro da CEDEAO e que tenta conseguir a paz e uma nova constituição para a Guiné Conackri e outras partes de África, não consegue ele mesmo organizar no seu próprio país, eleições transparentes”.

Kissy Agyeman, analista ao serviço da organização Global Insight, com sede em Londres, é da opinião que o clima envolvente das eleições do próximo mês, e no mínimo complicado.

Por conseguinte, de acordo com esta analista, o Senegal está ainda a tempo de salvar a sua outrora reputação de bastião da democracia e da estabilidade em África: “Penso que se estas eleições forem realizadas na data prevista, 25 de Fevereiro, então o Senegal conseguira preservar a ideia de que é uma nação democrática. Mas, penso que todo esse processo será ensombrado, pelo facto das eleições parlamentares terem sido adiadas”.

Mas, para esta analista, dificilmente a reputação internacional do Senegal será profundamente afectado, já que o país goza de um relativo prestígio junto dos doadores internacionais, que o consideram um bastião da estabilidade numa região mergulhada em conflitos ”Países como a Guine Conackri, a Costa do Marfim, a Serra Leoa e a Libéria enfrentam muito mais pressão. Portanto, penso ser provavelmente possível que as eleições não passem de forma despercebida, eu não diria isso... mas não terão, decerto, a mesma atenção, porque existe a ideia pré concebida de que o Senegal conseguirá, mais uma vez , sair-se bem desta situação.”

XS
SM
MD
LG