Durante as últimas 24 horas praticamente apenas se falou de duas coisas em Angola...O início do registo eleitoral a visita do presidente da Venezuela. Ainda assim, e enquanto esteve em Angola, isto é cerca de cinco horas, Hugo Chavez foi a manchete.
Da sua visita resultou a assinatura de um acordo entre os dois países, e ficou a promessa da abertura, em breve de uma embaixada da Venezuela em Angola. Em todo o caso está por se saber se a passagem de Hugo Chavez por Angola poderá produzir algo mais de substancial. Gerald Bender, professor da Universidade da Califórnia do Sul respondeu a cinco perguntas da Voz da América.
Voz da América-Professor será que esta visita poderá produzir uma grande alteração nas relações entre os dois países.
Professor G. Bender-Não acho que não. As duas economias são dominadas pelo petróleo e várias posições políticas do Chavez são contrárias as de Angola. Por exemplo, ele é contra mercados como Mercosul, mas nunca conseguirá convencer o presidente José Eduardo dos Santos a tirar Angola da SADC que é um organismo um mercado regional.
VOA-É provável que ele nunca consiga convencer o presidente José Eduardo dos Santos a tirar Angola da SADC, até porque Angola tem uma posição razoavelmente boa dentro da SADC. Mas em todo o caso ele parece querer colocar-se numa posição que possa levar Angola para algum campo.O senhor vê Angola ir a reboque da Venezuela?
GB-Não, ele não pode levar Angola para onde Angola não queira ir. O alvo principal desta visita é de ganhar apoios para a Venezuela entrar no Conselho de Segurança da ONU. A Venezuela está a fazer lobbies junto de muitos países, e não sei se Angola vai apoiar. Esta questão não é um grande assunto em Angola. Isto poderia irritar os EUA, logo poderá influenciar a decisão de Angola. Em todo os Estados Unidos também não são uma peça muito importante nesta equação.
VOA-Isto se calhar explica o facto dele vir de uma viagem que o levou a países como a Síria e a China?
GB-Há uma certa ironia aqui com a China.A China emprestou a Angola, 5,5 biliões de dólares, e Hugo Chavez acaba de sair da China com um empréstimo de 5.5 biliões de dólares para o sector petrolífero. Mas isto é só uma ironia da estatística...O facto é que a China está a ajudar os dois países fortemente.
VOA-Mencionou aqui o facto de eventual apoio de Angola à entrada da Venezuela no Conselho de Segurança poderia irritar os EUA...Quão importante é hoje para Angola a opinião dos EUA?
GB-Já não é tão importante assim, e não deve ser. Comparado com os outros países, os EUA não dão a Angola um grande apoio financeiro, e Angola tem que se decidir por si própria quais são os seus interesses no mundo, e os EUA não podem ditar o que Angola faz .
VOA-Voltando à questão inicial.Quando Chavez regressar a Venezuela.Angola será um assunto esquecido para os venezuelanos, ou a Venezuela será um assunto esquecido para os angolanos?
GB-Será um assunto esquecido nos dois países. A Venezuela só reconheceu Angola em 1986, quer dizer que não há uma longa amizade entre os dois países, e até a visita de Hugo Chavez nunca tinham assinado um protocolo. Acho que as relações são mínimas.
VOA-Por fim, e..se calhar não é de se dar muito crédito à proposta de Hugo Chavez de caucionar uma eventual candidatura de Angola a uma vaga na OPEP...
GB-Este assunto não depende da Venezuela, depende de Angola. Se Angola pensar que é do seu interesse entrar para a OPEP assim o fará. A decisão que existe hoje é que não está nos seus interesses entrar para a OPEP. Assim não está obrigada a respeitar uma quota de produção de barris por dia.