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Chade Acusa Vizinho Sudão de Ter Desencadeado a Crise


O presidente do Chade, Idriss Deby, acusou o vizinho Sudão de ser o responsável pela actual crise política no seu país, um argumento que não parece ter aderentes entre alguns sectores políticos chadianos, que identificam na corrupção, na pobreza e na ânsia desmedida de Deby pelo poder, as principais causas da actual situação política naquele país da África Central.

Desde a tentativa de golpe de Estado da passada quinta-feira, que provocou mais de 350 mortos e abalou a capital chadiana, Ndjamena, o presidente Idriss Deby e os seus mais próximos conselheiros têm intensificado a sua retórica contra o Sudão, país que responsabilizam pela crise no país.

A crise na região sudanesa de , onde forcas governamentais sudanesas, aliadas as milícias árabes Janjaweed são acusadas da morte de milhares de aldeões, no âmbito de uma campanha militar para conter uma rebelião que já dura ha três anos, acabou por gerar uma série de movimentos guerrilheiros, entre os quais, um grupo rebelde hostil ao presidente Idriss Deby, alegadamente apoiado pelo governo sudanês.Mas, muitos observadores políticos em Ndjamena, a capital chadiana, acreditam que a crise tem sido utilizada pelo poder chadiano, para esconder problemas muito mais graves no país.Esta é, pelo menos, a convicção de Masalbaye Tenebaye, responsável pela Comissão dos Direitos Humanos chadiana.

Para Tenebaye, o principal problema passa por um déficit de democracia no país a par da inexistência de uma política de responsabilização dos membros do governo do presidente Idriss Deby, nomeadamente na prestação de contas quanto ao paradeiro das receitas petrolíferas nacionais.

Diz Tenebaye: “ Estamos, de facto, revoltados porque as receitas petrolíferas deveriam beneficiar as populações mas, lamentavelmente, não é o que tem estado a acontecer.”

Apesar do Chade ser um dos fornecedores de petróleo dos Estados Unidos, um negócio que, só no ano de 2003, rendeu cerca de 370 milhões de dólares, aquele país da África Central continua na lista dos mais pobres do mundo. E, de acordo com a organização Transparência Internacional, o Chade é também um dos mais corruptos países do mundo.

Acusações de corrupção, de ma gestão das receitas petrolíferas do país, por alto responsáveis do governo do presidente Idriss Deby têm contribuído para a fragilização da situação política e tem permitido que os grupos da oposição ganhem terreno.

A ameaça proferida, no último fim de semana, pelo presidente Idriss Deby, no sentido do encerramento da produção petrolífera do Chade, foi largamente encarada como uma tentativa para forçar o Banco Mundial a libertar os cerca de 124 milhões de dólares em ajuda congeladas por aquela instituição financeira internacional, sob o argumento de que o governo de Deby teria desviado receitas petrolíferas para fins militares.

Para contornar um eventual cenário de suspensão da produção petrolífera do país, o presidente Idriss Deby pediu à empresa americana Exxon Mobil, que lidera a exploração do petróleo naquela nação africana, um adiantamento na ordem dos cem milhões de dólares, isto até que o Banco Mundial liberte os fundos congelados. O pedido suscitou a imediata reacção de Washington, que instou o presidente Deby a impôr uma moratória de duas semanas.

Para a muitos chadianos, as receitas petrolíferas constituem a única esperança na superação da situação de pobreza, pelo que encaram as recentes ameaças de Deby como uma atitude de desespero de um presidente que tem estado, nos últimos 15 anos, a perder a sua influência no país.

Tanto Deby como os seus mais próximos colaboradores, têm tentado associar a actividade dos rebeldes a figuras da oposição política, uma prática bem conhecida no continente africano e tradicionalmente usada para silenciar as vozes da oposição.

Lol Mahamat Choua, ex-presidente do Chade até 1979 e hoje líder de um partido da oposição, a Convergência para a Democracia e Progresso reiterou recentemente, numa entrevista à VOA, que os grupos da oposição não apoiam as actividades dos rebeldes.

Afirma Mahamat Chou, líder de um partido da oposição no Chade: “Nós temos de realçar que não temos nenhuma ligação aos rebeldes. A nossa forma de chegar ao poder é através da democracia, enquanto os rebeldes têm outros métodos. Poderão ter as suas ideias, mas nós temos as nossas...”

Entretanto, a situação na capital, Ndjamena, é relativamente calma, apesar da forte presença das forcas de segurança e de rumores postos a circular no sentido de que os rebeldes, que chegaram a entrar na cidade, rompendo as linhas defensivas das forças governamentais, estariam preparando uma contra-ofensiva, ainda antes das eleições presidenciais agendadas para 3 de Maio próximo.

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