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Quando é que o lixo em Angola se vai tornar matéria prima para gerar novos produtos?

África Agora de 10 de Abril de 2022
África Agora de 10 de Abril de 2022

O lixo é um problema de saúde pública que afecta os angolanos já há vários anos.

A reciclagem do lixo poderia gerar empregos, reduzir o impacto ambiental e contribuir para a inclusão social. No entanto, é preciso investir em estruturação de políticas para resíduos sólidos.

Vários modelos de recolha do lixo já foram implementados na província de Luanda, mas nenhum até hoje foi ambicioso o suficiente para criar uma economia circular, onde nada é desperdiçado - todos os produtos passam por reaproveitamento, transformação e reciclagem.

Será que o novo modelo de recolha de lixo vai funcionar em Luanda?
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Em entrevista à Voz da América, o engenheiro sanitário e ambiental, José Alexandre Palanga, falou sobre a situação atual do lixo, bem como do novo modelo de recolha de Resíduos Sólidos Urbanos que entra em vigor neste mês em Luanda, cujo o qual o papel do Governo Provincial de Luanda será de supervisionar e fiscalizar o processo. As administrações municipais ficarão responsáveis pela seleção e pagamento das operadoras.

Para o engenheiro, a situação atual do lixo e dos resíduos sólidos em Luanda pode ser caracterizada como dramática e requer cuidados.

“Todos os sistemas que nós tivemos até aqui não comportavam as situações excepcionais, como foi aquela que nós vivemos no ano passado, ou seja, na eventualidade das operadoras privadas não trabalharem, como é que vai ser? O Estado está em condições para dar resposta? Os sistemas anteriores mostraram que o Estado não estava preparado”.

Vantagens do novo modelo de recolha de lixo

Segundo o engenheiro sanitário, o novo modelo de coleta de lixo aceitará a entrada de micro, pequenas e médias empresas no mercado, a fim de que possam oferecer soluções de baixo custo e ser efectivas. “Essas empresas vão estar nos bairros, nas zonas não urbanizadas,” sublinhou Palanga.

Outra vantagem é a descentralização do sistema. “A premissa de planificação do sistema sai do Governo Provincial e vai para os municípios, e é assim que deve ser feito com base na engenharia sanitária: o resíduo deve ser planificado e gerido a nível de município”. Outra vantagem citada pelo o engenheiro é que o novo modelo dá maior poder de acção e decisão para as pessoas.

“Naquelas zonas de difícil acesso, onde as pessoas têm menos poder aquisitivo, elas também vão conseguir fazer contratos com custos menores com as micro operadoras e com as associações ligadas à área de saneamento.

Crise do lixo em Luanda, Angola, 17 de Março 2021
Crise do lixo em Luanda, Angola, 17 de Março 2021

Desvantagens

De acordo com o engenheiro sanitário e ambiental, a principal desvantagem do novo modelo é que não está claro se vai haver alguma mudança com relação ao tratamento de resíduos sólidos. “O novo modelo não fala de reciclagem, valorização ou recolha seletiva”. Outra desvantagem é que não se sabe como as micro, pequenas e média empresas serão fiscalizadas.

“Qual é a condição em que essas empresas irão recolher os resíduos? Como vão transportar?,” indagou o engenheiro. Palanga ainda destacou que não há normas e nem legislação para a fiscalização do novo modelo de recolha do lixo. Além dessas duas desvantagens, há mais um ponto que não está claro para o engenheiro sanitário e diz respeito à capacidade de suportar esta nova demanda que os municípios terão.

“Será que não vai acontecer a mesma coisa que ocorreu no passado quando o governo ficava sem conseguir fazer o repasse de verbas para as operadoras. Isso não está claro no novo modelo”.

Lixo na Estrada Direita, Calemba 2, Kilamba, Luanda, Angola. 1 de Maio, 2021.
Lixo na Estrada Direita, Calemba 2, Kilamba, Luanda, Angola. 1 de Maio, 2021.

Ponto de vista técnico e académico sobre o novo modelo de recolha de lixo

Para o engenheiro sanitário e ambiental falta muitas respostas com o novo modelo. “Do ponto de vista operacional, acredito que pode funcionar, mas ainda assim não será uma maravilha. Nós precisamos de um modelo de gestão integrada que privilegia a economia circular. Ou seja, não podemos olhar para o lixo em Luanda somente para depositar no aterro sanitário. Temos que olhar para o lixo de Luanda como recurso. Temos que tratar o lixo privilegiando a reciclagem. Tem que olhar o lixo privilegiando a reutilização, a reintrodução do lixo como matéria-prima dos processos produtivos e este modelo não comporta isso. Eu fico meio dividido e meio cético com relação ao novo modelo. Vou só esperar para ver”.

Palanga explicou que outros profissionais também partilham dessa mesma preocupação.

“A nossa maior bandeira é que haja planos municipais de saneamento. Com base nos planos de saneamento vamos trabalhar a gestão de resíduos nos municípios, desde a planificação até a operacionalização, e que sejam um sistema digital integrado de resíduos, comporte áreas de valorização de resíduos em cada município”.

“Nós queremos que em cada município de Angola tenha uma central de valorização de resíduos. Tenha uma central de triagem. Nós queremos que cada município de Angola tenha implementado a recolha seletiva. Se nós tivermos pelo menos um modelo que já comporta esses elementos é mais fácil depois operacionalizar. Nós precisamos de um modelo ideal porque mesmo que a gente falhe na operação temos um uma linha orientadora de facto viável. É isso que nós precisamos,” concluiu o engenheiro sanitário e ambiental, José Alexandre Palanga.

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Como a juventude da Guiné-Bissau está a moldar um futuro promissor?

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Neste domingo, no Fala África Voz da America, temos uma conversa com o mestre em sociologia Mamadu Alimo Djaló, uma voz inspiradora e um agente de mudança na Guiné-Bissau! Alimo compartilhou a sua jornada e compromisso com a igualdade de género, o empoderamento juvenil e a transformação social.

Fala África: Mamadu Alimo Djaló destaca a importância da juventude na criação de uma "Agenda Comum" para o futuro da Guiné-Bissau

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Fala África: Mamadu Djaló quer "Jornada Comum de Jovens Guineenses" para influenciar políticas governamentais

Mamadu Alimo Djaló, ativista guineense
Mamadu Alimo Djaló, ativista guineense

Na agitada cidade de Bissau, onde o som das ondas do Atlântico se mistura com a movimentação do dia a dia, surge uma figura inspiradora que está a fazer a diferença na vida da juventude guineense.

Mamadu Alimo Djaló é um jovem cuja jornada e dedicação estão a forjar um futuro promissor para a sua comunidade. Ele cresceu na Guiné-Bissau enfrentando os desafios típicos da juventude na região.

Inicialmente, Alimo aspirava tornar-se um jogador de futebol, mas a sua trajetória mudou quando ingressou na Escola 25 de Abril e começou a envolver-se nas questões de direitos dos alunos.

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“Eu tive o privilégio de crescer numa comunidade em que há essa possibilidade de se juntar a organizações juvenis que me fez crescer mais ainda enquanto pessoa”.

Alimo participou ativamente de organizações de direitos das crianças, como o Parlamento Nacional Infantil, onde reconheceu a importância de influenciar o governo e as instituições para criar políticas que beneficiassem as crianças e promovessem uma sociedade livre de violência.

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“Isso ajuda de alguma forma ou outra a tornar as crianças desde a infância até a vida adulta a serem pessoas responsáveis que contribuirão para o bem-estar do país”.

Em um artigo recente publicado na revista online, Mamadu Alimo Djaló propôs a ideia de uma "Jornada Comum de Jovens Guineenses". Essa proposta visa unir jovens de diversas organizações para criar uma agenda comum. Acreditando que a diversidade da sociedade guineense é uma força que pode impulsionar o progresso, ele enxerga essa jornada como uma oportunidade para os jovens se unirem e discutirem questões primordiais para sua geração.

“Então nesse espaço comum, que pode acontecer de dois em dois anos como descrevi no artigo, vai ser eleger a comissão organizadora deste evento magno, que vai trazer todas as valentias, todas as dificuldades que os jovens têm, para discutir e ao mesmo tempo levar essa agenda para o governo ter em conta quanto a voz dos jovens guineenses. Por exemplo, se no ano 2024 organizarmos uma jornada nacional de Juventude Guineense vamos ter todas as organizações legalizadas para discutirem um assunto primor daquilo que nós jovens necessitamos. E o máximo que nós necessitamos neste momento é que haja uma política e ação do emprego jovem”.

O mestre em sociologia argumenta que, apesar das diferenças nas organizações juvenis, há mais semelhanças do que diferenças: “As estruturas do poder normalmente vão com agendas político-partidárias. Se vão com agendas político partidárias nós enquanto jovens da sociedade civil precisamos de ter uma contra-agenda porque a agenda que os governantes levam são agendas que respondem aos partidos políticos e não aos anseios da população. Nós enquanto grupo podemos provocar isso. Provocar com que a agenda seja ligada ao bem-estar dos jovens, da população guineense, ao bem-estar de todas as pessoas que se nacionalizam guineense, ou que nascem dentro do território nacional”.

As propostas transformadoras de Alimo também se estendem aos campos de férias: “No meu caso particular, em dois campos de férias que eu participei enquanto formando, aprendi imensas coisas que me que me acompanham enquanto ativista. Por exemplo, aprendi no primeiro campo de férias sobre a educação global, mas nessa educação global conseguimos aprender sobre a questão da glocalidade, o pensar global e agir localmente. E no segundo campo de férias, foi possível aprender sobre a Convenção dos Direitos da Criança, que na altura a oficina chamava-se “Escola de Cadete.”

Em vez de campos de férias separados com focos distintos, Alimo quer ver a criação de um espaço comum onde os jovens possam aprender sobre uma variedade de tópicos, desde educação global até direitos das crianças, em um ambiente colaborativo, para que isso permita ainda mais o crescimento dos jovens.

Fala África: Jay Brito Querido na busca da excelência no ensino superior em Cabo Verde

Fala África: Jay Brito Querido na busca da excelência no ensino superior em Cabo Verde
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Fala África: Jay Brito Querido discute o caminho para o progresso científico em Cabo Verde

Jay Brito Querido
Jay Brito Querido

"Cabo Verde tem de criar, à semelhança de outros países como a Índia, a Coreia do Sul, uma rede da diáspora do conhecimento que pode fomentar o avanço científico no país através de colaborações e projetos conjuntos"

Num mundo cada vez mais conectado, a ciência e a educação desempenham papéis cruciais no desenvolvimento de nações.

No programa Fala África entrevistámos o Dr. Jay Brito Querido, professor assistente de bioquímica na Faculdade de Medicina e professor assistente de pesquisa no Instituto de Ciências da Vida da Universidade de Michigan, EUA.

Fala África: Investir na ciência é investir no futuro de Cabo Verde, diz Dr. Jay Querido
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Quais os desafios e oportunidades para a ciência e o ensino superior em Cabo Verde e em todo o continente africano? Como a pesquisa científica e a colaboração internacional têm moldado o futuro de Cabo Verde, inspirando inovação e progresso?

Segundo o Dr. Querido, Cabo Verde enfrenta o desafio de não apenas aumentar o número de instituições, mas também elevar a qualidade e o rigor do ensino superior.

“Cabo Verde é um dos países com maior taxa de fuga de cérebros”.

Fala África: Jay Brito Querido na busca da excelência no ensino superior em Cabo Verde
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Uma das soluções sugeridas pelo professor para impulsionar o avanço científico e tecnológico em Cabo Verde e em outros países lusófonos é a colaboração com a diáspora cabo-verdiana, que inclui cientistas altamente qualificados que vivem nos Estados Unidos e em outros lugares do mundo.

“Hoje Cabo Verde tem de compreender que vivemos num mundo global e no mundo global cada vez mais conectado. Um cabo-verdiano que vive aqui por exemplo no Michigan ou em Boston não tem de estar em Cabo Verde para contribuir para o avanço do país. Cabo Verde tem de criar, à semelhança de outros países como a Índia, a Coreia do Sul, uma rede da diáspora do conhecimento que pode fomentar o avanço científico no país através de colaborações e projetos conjuntos”.

“Aquilo que nós temos assistido são colaborações pontuais entre pesquisadores, entre investigadores, mas não existe um plano estruturado para colaboração entre instituições do ensino superior em Cabo Verde e instituições de ensino superior aqui nos Estados Unidos, como por exemplo, as que existem em Portugal. Em Portugal existe o programa MIT Portugal e existem colaborações com universidade do Texas, Austin e Portugal, então são programas estruturados e isso tem faltado a Cabo Verde.”

O cientista acrescentou que “em Cabo Verde ainda não temos uma agência estruturada para o financiamento e regulação da investigação científica no país. Então ainda estamos numa fase muito incipiente e que temos de dar os primeiros passos até pensar em internacionalização da investigação científica que se faz no país”.

“Eu venho de uma de uma família humilde, então eu sei as dificuldades que os jovens da preferia da Cidade da Praia sentem para dar o próximo passo. Uma das dificuldades, é a falta de autoestima. Falta alguém que lhes diga que é possível”, explicando a importância da sua participação na criação do projeto "Professor por 1 Dia" no Agrupamento 8 do Centro Educativo Achada Grande, na cidade da Praia, Cabo Verde.

“Hoje essa escola tem sido um exemplo daquilo que é a transformação que uma escola pode introduzir numa comunidade. Estou muito orgulhoso pelo pequeníssimo contributo que eu dei para esse processo.”

Fala África: "Os livros não chegam as comunidades, mas a música chega. Graças a deus!", Jaime MC
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