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Relatório do Senado diz que a CIA torturou e mentiu


Dianne Feinstein
Dianne Feinstein

Antigo director da CIA critica relatório que descreve como "um desafio à imaginação"

Um comité do Senado americano publicou hje, 9, um relatório em que acusa a Cental de Inteligência Americana(CIA) de torturar presos suspeitos de terrorismo e de mentir ao Congresso sobre essas acções.

As torturas foram alegadamente levadas a cabo em prisões ao redor do mundo na chamada “guerra contra o terrorismo” levada a cabo pelos Estados Unidos na sequência dos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001.

Segundo o documento, a CIA não informou correctamente a Casa Branca e o Congresso sobre as suas actividades.

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O relatório de cerca de seis mil páginas foi elaborado apenas por elementos do Partido Democrata do Comité de Serviços de Inteligência do Senado porque os republicanos decidiram não participar.

Apenas um sumário de cerca de 500 paginas foi publicado, mas sem os nomes dos agentes da CIA e países onde estavam localizadas as prisões, entre outros detalhes.

Mesmo antes da publicação do relatório já se sabia que a CIA ou elementos que trabalhavam para agência tinham usado o que na altura a administração do presidente George W. Bush descreveu de “métodos fortalecidos de interrogatórios”.

Entre esses métodos incluem-se a simulação de afogamentos, exposição a temperaturas muito baixas, impedir os presos de dormir e outros métodos que muitos classificam de tortura. Um dos suspeitos terroristas foi impedido de dormir durante sete dias.

A senadora Dianne Feinstein, que chefia até ao final deste ano Comité de Serviços de Inteligência e que levou a cabo as investigações afirmou que o objectivo da revisão era “descobrir os factos deste programa secreto e os resultados foram chocantes”.

“O relatório expões brutalidades que são um contraste grave com os valores da nossa nação”, disse.

Para além disso, o relatório afirma que os casos de tortura não produziram qualquer resultado benéfico nas investigações que levaram ao desmantelamento da liderança da al-Qaida, a prisão de muitos dos seus dirigentes ou a eventual morte do seu dirigente máximo Osama bin Laden.

Aqueles que estavam em posição de liderança nos serviços de informação discordam das conclusões.

José Rodriguez, que chefiou a divisão clandestina da CIA, disse num artigo publicado pelo Washington Post que concluir que os métodos empregados não produziram resultados é “uma tentativa desonesta de reescrever a história”.

“Fico estupefacto ao ver que o Senado possa empregar tantos recursos a estudar o programa de interrogatórios e, contudo, sem uma única vez ter falado com as pessoas envolvidas nesse programa, incluindo com a pessoa que chefiou o programa, que sou eu”, escreveu Rodriguez.

Ao apresentar o seu relatório, a senadora Feinstein disse que as pessoas envolvidas não foram questionadas porque estavam a ser investigadas na altura pelo Departamento de Justiça para possíveis acções judiciais e que portanto esses agentes não podiam ser interrogados.

Críticos afirmam, no entanto, que o Ministério da Justiça abandonou as suas investigações em 2010 e que mesmo assim o comité do senado não questionou ninguém envolvido.

Rodriguez disse ainda que o programa tinha sido autorizado ao mais alto nível do Governo, o que foi considerado legal pelo Ministério da Justiça, e provou ser “eficaz qualquer que seja o padrão utilizado” para sua análise.

Os dirigentes dos Comités de Inteligência do Senado e da Câmara foram regularmente informados das acções da CIA, mais de 40 vezes entre 2002 e 2009, escreveu Rodriguez.

O relatório diz no entanto que alguns detidos foram sujeitos a métodos de interrogatório que não tinham sido aprovados.

O antigo director da CIA Michael Hayden rejeitou também as alegações do relatório.

“Afirmar que nós constantemente, durante um longo período de tempo, mentimos a todos sobre um programa que não tinha qualquer resultado é algo que desafia a imaginação”, disse Hayden.

O antigo vice presidente Dick Chenney rejeitou também as alegações que a CIA teria escondido da administração os seus métodos e mentido sobre os resultados,.

A publicação do relatório causou também receios de que através do mundo possa haver ataques contra interesses e cidadãos americanos.

Embaixadas americanas e pessoal militar através do mundo foram colocados eme estado de alerta.

A Casa Branca disse apoiar a divulgação do documento e fez notar que, após a sua tomada de posse, o Presidente Barack Obama deu ordens “para se por de imediato fim a essas tácticas que são descritas no relatório”.

Na verdade, o presidente declarou na altura não haver dúvidas que os Estados Unidos tinham torturado pessoas o que, disse, é contrário aos valores do país.

Sabe-se que antigos funcionários ligados às investigações da al-Qaida planeiam publicar uma resposta à divulgação do relatório

Dianne Feinstein disse compreender que na sequência dos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 havia pressões para que a CIA usasse de “todos os instrumentos possíveis” para obter informações, mas que essa pressão, “ receios e expectativas de mais ataques” não justificam o uso de medidas “impróprias”.

“A maior lição deste relatório é que quaisquer que sejam as pressões e a necessidade de se agir, as acções dos serviços de informações têm que sempre reflectir aquilo que somos como nação e aderir sempre às nossas leis e padrões”, concluiu a senadora.

O documento indica também ter havido lutas internas entre agentes da CIA no terreno e os seus chefes em Washington. Num caso descrito pelo relatório, os agentes responsaveis directamente pelo interrogatorio de um suspeito disseram que este não tinha nada a revelar, mas a chefia em Washington insistiu na continuação dos interrogatórios levando um agente a ameaçar demitir-se.

A CIA respondeu que o relatório “conta parte da historia” e que “contém muitas falhas pelo que não pode ser considerado como a versão oficial dos acontecimentos”.

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