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"Savimbi acreditava numa vitória militar" após as eleições de 1992


Jonas Savimbi (no centro, com óculos escuros) fotografado em 1975, no Huambo, com guerrilheiros da UNITA
Jonas Savimbi (no centro, com óculos escuros) fotografado em 1975, no Huambo, com guerrilheiros da UNITA

Herman Cohen, que foi alto funcionário do Departamento de Estado, relembra o líder da UNITA, nove anos depois da sua morte

O principal diplomata Americano encarregado dos assuntos angolanos entre 1989 e 1993 disse que após as eleições de 1992, cujos resultados não aceitou, Jonas Savimbi nunca mais quis uma solução pacífica para Angola.

Herman Cohen, secretário de Estado adjunto para os Assuntos Africanos disse à VOA que o então presidente da UNITA, Jonas Savimbi, ficou zangado com os Estados Unidos por estes considerarem que as eleições de 1992 foram livres e justas. Savimbi dizia, mas não conseguiu provar, que havia fraude.

A partir daí, explicou Cohen, Savimbi deixou de acreditar nas negociações e pensou que podia derrotar militarmente o MPLA. "Depois de 1992 a sua visão era: só a guerra é que pode resolver isto. Nas eleições de 1992 ele reforçou a sua posição militar. Durante a campanha foi autorizado a fazer-se acompanhar das suas tropas para fins de segurança, e deixou-as espalhadas, com armas, por todo o país. Antes estava apenas na Jamba. Ele pensava que podia ganhar, que as suas tropas eram melhores... e eram. Tinha acesso a diamantes, tinha acesso a pistas da aterragem onde podia receber armas", lembra o diplomata americano, agora aposentado, concluindo: "Ele acreditava totalmente, e apenas, em lutar até ao fim".

E, dez anos depois, Savimbi morreu a lutar até ao fim. Mas Cohen pensa que a derrota da UNITA nas eleições de 1992, que deitou tudo a perder em Angola, foi da exclusiva responsabilidade do próprio Savimbi.

"Ele fez uma campanha horrivel. Havia algumas sondagens credíveis que lhe davam a vitoria no inicio da campanha", recoprda Cohen, acrescentando que a convicção da vitória da UNITA era tal, que "responsáveis do MPLA estavam a mandar as suas famílias para o estangeiro".

Mas Savimbi, diz o diplomata, "fez uma campanha de guerra. Por exemplo, disse que ia punir todos os que estavam no mercado negro, o que foi um erro: a única maneira de sobreviver em Angola, naqueles dias, era o mercado negro. E fez uma campanha com armas e sempre em camuflado. E com isso assustou as pessoas. E Eduardo dos Santos falava de paz e segurança e jogava futebol com as crianças. O contraste foi grande. E apesar de no inicio Savimbi ser favorito, assustou as pessoas e acabou por perder".

Herman Cohen pensa que Savimbi não estava interessado em eleições livres e justas, mas em eleições que pudesse ganhar. Daí não ter aceite a derrota, num acto eleitoral reconhecido como válido pelos estados Unidos, pela ONU e o resto do Mundo.

Amanhã, Cohen discorre sobre o valor dos processos eleitorais em África, e particularmente em Angola.

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