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Relator do "mensalão" critica impugnação e posse de Michel Temer


Joaquim Barbosa, antigo juiz do Supremo Tribunal Federal, Brasil
Joaquim Barbosa, antigo juiz do Supremo Tribunal Federal, Brasil

Joaquim Barbosa defende eleições directas para que o povo tenha voz.

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa criticou nesta quinta-feira, 12, a forma como foi realizado e conduzido o processo de afastamento de Dilma Rousseff porque, segundo ele, excluiu a participação ou a consulta ao povo.

"Não somos um bando de boçais que pode ser conduzido com essa sem-cerimónia", afirmou o juiz que ficou conhecido por ser o relator do escândalo de corrupção “mensalão” que colocou na prisão vários políticos, entre eles dirigentes do PT.

Citado pelo portal uol.com.br quando falava no VTEXDay, encontro do sector de comércio eletrónico, em São Paulo, a suspensão de Dilma Rousseff é "destituído de legitimidade profunda".

"Do ponto de vista puramente legal, está tudo certo, mas não é assim que se governa um país. Isso precisa de nós, o povo", afirmou Barbosa, adiantando que, com o tempo, as pessoas poderão pensar melhor sobre a "justeza" ou não do pedido, sobre a qual disse ter "dúvidas muito sinceras".

O antigo presidente do STF disse que o processo lembra momentos de cunho autoritário ao longo da história brasileira, como a ditadura militar (1964-1985), quando o povo só assistiu.

Barbosa afirmou ser a favor da convocação de eleições directas para presidente, mas ponderou que essa decisão é inconstitucional e certamente será anulada pelo STF.

"Sou radicalmente favorável à convocação de novas eleições. Essa é a verdadeira solução, que acaba com essa anomalia [do impeachment]", opinou.

O magistrado disse ter defendido a renúncia de Dilma meses atrás, quando ela teria condições de condicionar a sua saída à adopção de uma série de medidas importantes para o país e poderia propor também a renúncia de seu vice-presidente.

Quanto ao papel da Presidente suspensa nos casos de corrupção no Brasil, Joaquim Barbosa também apontou o dedo a Dilma Rousseff:

"Não digo que ela compactuou abertamente com segmentos corruptos do seu Governo, no seu partido e na sua base de apoio, mas se omitiu, silenciou-se, foi ambígua e não soube se distanciar do ambiente deletério que a cercava, não soube exercer comando e acabou engolida por essa gente", sublinhou o antigo juiz que não poupou também o Presidente interino, Michel Temer.

"É muito grave tirar a Presidente do cargo e colocar em seu lugar alguém que é seu adversário oculto ou ostensivo, alguém que perdeu uma eleição presidencial ou alguém que sequer um dia teria o sonho de disputar uma eleição para presidente. Anotem: o Brasil terá de conviver por mais 2 anos com essa anomalia", afirmou o ex-ministro.

Barbosa deixou claro o seu “pensamento não acompanha o pensamento da turba" porque, segundo concluiu em jeito de pergunta: "Quem vai ter confiança e investir num país que destitui um presidente da República com tanta facilidade e afoiteza?"

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