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Europa e o dilema dos imigrantes: entre contrabandistas e refugiados


Sicilia, Itália
Sicilia, Itália

A Europa está em alerta devido à onda de imigrantes que chegam às suas costas ou morrem antes de chegar, nomeadamente à Itália e à Grécia. Os líderes europeus garantem que vão combater o que chamam de tráfico de pessoas. Entretanto, especialistas advertem para o facto desse combate ser extremamente difícil devido à vasta rede de crime organizado que controla este negócio milionário.

Os barcos dos contrabandistas partem da costa do Norte de África com destino à Europa, sem garantia de que chegarão ao destino. Nos últimos anos, dezenas de milhares de emigrantes perderam a vida por afogamento, inanição e desidratação.

A viagem de barco, no entanto, é apenas uma etapa de uma vasta rede de tráfico de pessoas que começa no país de origem.

Andrea Di Nicola, professor de criminologia na Universidade de Trento, na Itália, viajou por toda a África e Médio Oriente para entrevistar pessoas envolvidas na rede de contrabando. Di Nicola disse à VOA na estação ferroviária central de Milão, um importante centro para os imigrantes que chegam à Itália, que a rede funciona como uma agência de viagens implacável.

“Eles trabalham em redes e podem aliar-se entre si, mesmo que se venha a fechar rota a partir da Líbia, provavelmente irão trabalhar a partir de Tunísia ou da Argélia", explica o investigador.

A Europa apelou a uma acção orientada contra os traficantes de pessoas. Entretanto, para o analista Riccardo Fabiani, a tarefa não é impossível, mas muito difícil.

"O uso de aviões telecomandados, por exemplo, para seguir as pessoas envolvidas no negócio de contrabando, por exemplo”, é um opção, segundo Fabiani que lembra que “a Itália e outros países europeus têm redes de inteligência na Líbia que podem desempenhar um bom papel nesse combate".

Andrea Di Nicola lembra, no entanto, que os contrabandistas fazem parte de grupos criminosos internacionais que ganham enormes somas em dinheiro.

"As Nações Unidas estimam que este negócio movimenta até 10 mil milhões de dólares”, diz Di Nicola, que dá o exemplo que “um traficante paquistanês na Itália que contrabandeou 700 imigrantes e cobrou sete mil euros por cada um”.

Apesar das ligações a gangues criminosas, os contrabandistas estão a oferecer uma saída aos sírios e pessoas que fogem de diversos conflitos. É por isso que aquele investigador defende que a Europa deve reformar a sua política de imigração.

"Se se reforçar a muralha em torno da Europa, provavelmente os contrabandistas vão aumentar os preços, conforme os próprios traficantes nos disseram”, conta Di Nicola que, como forma de desencorajá-los sugere o recurso ao “direito penal e investigação, mas também na prevenção, na redução de oportunidades e, claro, em melhores políticas de assistência às vítimas. "

A Europa está determinada a combater os traficantes. Mas com o crescente número de mortes no Mediterrâneo, outro debate começa a ganhar espaço: se a Europa deve abrir canais e meios seguros e legítimos para os refugiados que, na verdade, estão a fugir à guerra.

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