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Especialistas defendem ensino bilingue em Angola para preservação da identidade nacional


Sala de aula, Namibe, Angola
Sala de aula, Namibe, Angola

Falta vontade do governo, diz o docente Scott Kambolo.

A multiplicidade étnica bem representada ao longo de todo seu espaço geográfico faz de Angola um Estado multlinguístico.

O governo angolano há mais de 10 anos que tem um projecto de introdução das línguas nacionais no sistema de ensino, como disciplina curricular.

Mas, a implementação deste projecto ficou apenas reservado para as universidades, onde já há até mestrados em línguas nacionais.

O linguista e docente universitário Scott Kambolo diz que falta vontade do governo para a implementação do ensino não apenas das línguas nacionais, mas também em língua nacional.

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O especialista diz que a aprendizagem é mais rápida quando o aluno recebe os ensinamentos na língua que melhor domina, daí que seja a favor da prática do ensino bilingue em Angola, ou seja, a coabitação das línguas nacionais e portuguesa no sistema de ensino.

“Temos que tomar alguma atitude. Podiamos ensinar nas línguas maternas de cada região”, diz o professor de Linguística Africana na Universidade Metodista de Angola, que acrescenta que Luanda, a capital de Angola, é um caso particular onde apesar da sua matriz linguística ser Kimbundu, “deve se ensinar o Kimbundu e não em Kimbundu”.

O professor universitário Arlindo Costa concorda com Scott Kambolo. Para ele, Luanda, a semelhança de Maputo, capital de Moçambique, é uma metrópole onde se verifica uma considerável deslocação forçada de pessoas do meio rural para o meio urbano, e o executivo devia estudar o melhor mecanismo possível para resolver o problema.

Há um longo caminho…

Os dados do censo geral da população realizado em 2014 revelam que Angola tem mais de 25,7 milhões de habitantes; cada angolano pode falar mais do que uma língua nacional em casa, sendo o português falado por 71,15% de angolanos. Neste caso, “com maior predominância nas áreas urbanas”, onde 85% da população fala a língua portuguesa, contra os 49% na área rural.

Os restantes 28,85% da população falam mais de 10 línguas nacionais, como o kikongo (na parte Norte do país) e o kimbundo (Norte e centro litoral), cada uma destas faladas, respetivamente por 8,24% e 7,82% da população.

No interior centro e Norte é falada a língua chokwe (6,54%), enquanto no Sul, entre as províncias do Kuando Kubango, Huíla e Cunene, pequenos grupos falam ainda as línguas nganguela (3,11%), kwanhama (2,26%) e muhumbi (2,12%).

Costa propõe a criação de escolas nacionais de línguas em todas as províncias, antes mesmo da sua implementação no sistema de ensino formal. “Há um longo caminho a percorrer até lá chegarmos. Muita gente diz que devemos avançar, mas é preciso ter calma e trabalhar para chegar até lá”, diz.

O docente da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Metodista de Angola, que falava por ocasião das III jornadas Científico-pedagógicas, realizada sob o lema:”Caminhos de Cultura: Tradição, criação, intervenção”.

Para ele, para o sucesso da impementação das línguas é importante que a criança tenha na sua de aula a sua língua materna. Caso contrário, diz o especialista em literatura, “teremos numa sala de aula uma criança com uma língua que para ela é estrangeira no seu próprio país”.

Línguas nacionais nas horas mortas

Costa defende duas vertentes que fundamentam a necessidade de implementação das línguas nacionais (maternas) no sistema de ensino: A primeira é facilitar o processo de ensino e aprendizagem e, assim, obter melhor aproveitamento escolar; a segunda, o resgate e a preservação da identidade cultural de Angola.

A nível de alguns órgãos de informação são dedicados alguns minutos às línguas de Angola, sendo que o melhor exemplo é da rádio Ngola Yetu, do grupo RNA, cuja emissão é feita 24 horas em Kimbundu. Em relação a Televisão Pública de Angola, são dedicadas apenas perto de duas horas a emissão de notícias em algumas línguas nacionais.

Costa, cabo verdiano ao serviço da Universidade Metodista de Angola, critica a difusão de notícias em línguas nacionais apenas nas horas “mortas”.

“Eu sei que há programas por aí. Mas também eu sei que naquilo que nós chamamos horas de ponta são programas em Português. O que é que isto significa? Que neste momento as línguas ainda não estão suficientemente valorizadas, porque ainda não são capazes de exprimir novas realidades, novos conteúdos”.

Para além da oficialização do ensino em línguas nacionais e das línguas de Angola, o docente universitário acautela a sua regulamentação.

As teorias de ensino e aprendizagem aplicadas em Angola já estão ultrapassadas, diz Costa, que sugere que o país deverá saber aproveitar os fundos disponibilizados pela União Europeia, UNICEF e outras organizações internacionais que incentivam e investem na aprendizagem das línguas para facilitar a integração das pessoas.

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