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Antigos combatentes na Costa do Marfim reclamam atenção do governo


Membros das Forças Novas pro-presidente Ouattara, em Duekoué, Mar, 2011
Membros das Forças Novas pro-presidente Ouattara, em Duekoué, Mar, 2011

Fontes diplomáticas afirmam que o plano do governo vai abranger apenas cerca de 7 mil antigos combatentes dos dois lados do conflito que dividiu o país até 2011

O governo da Costa do Marfim deu o início ao desarmamento dos antigo-combatentes da longa década de crises políticas no país, mas na antiga capital rebelde de Bouaké, questões por resolver acerca do processo estão a alimentar frustrações entre os antigos combatentes cuja reintegração social é vista como essencial para a paz duradoura.

Todas as manhãs, Dosso Abou de 47 anos dá voltas pelo seu bairro com a sua catana limpando os arbustos. Durante os últimos dois anos, desde o fim do conflito pós-eleitoral de 2010-2011 na Costa do Marfim, é essa a única maneira que Abou encontrou para garantir o sustento da esposa e cinco filhos.

Durante 9 anos, Abou lutou ao lado do grupo rebelde, Forças Novas, cujos membros atentaram um golpe de Estado em 2002 contra o então presidente Laurent Gbagbo. Implacável, Gbagbo manteve-se no poder, isso enquanto os rebeldes assumiam o controlo da metade norte do país, fazendo de Bouaké a sua capital.

Em 2010, Laurent Gbagbo recusou-se em abandonar o poder a favor do actual presidente Alassane Ouattara depois da derrota nas eleições presidenciais de Novembro. No braço de ferro que se instalou, as Forças Novas deram apoio a Ouattara tendo-o ajudado a assumir o poder em Abril de 2011. Muitos dos rebeldes assumiram – e várias vezes foram ditos pelos seus comandantes – que seriam integrados nas novas forças armadas.

Hoje, tornou-se claro que muitos dos combatentes rebeldes vão ficar de fora, o que tem causado frustração a Abou e milhares de outros que tal como ele, têm poucos conhecimentos práticos, e vão assistir passivamente a recuperação económica da cidade de Bouaké.

Dosso Abou diz que actualmente não têm ocupação. Não têm emprego. E não estão a participar no crescimento do país desde que o conflito começou em 2002. Questiona a propósito dos anos que perderam. E disse que vai pedir trabalho as autoridades, seja numa loja, ou com a polícia, ou um cargo que seja.

No passado mês de Agosto, o governo costa-marfinense criou a Autoridade Nacional para o Desarmamento, Desmobilização e Reintegração conhecida pela sigla DDR. O processo é visto como talvez o mais importante para a manutenção da paz num país cheio de armas e de jovens não formados e vulneráveis a recrutamentos militares. O falhanço do anterior DDR foi visto como parte do descontentamento que conduziu ao conflito de 2010-2011.

Enquanto Dosso Abou tem confiança de que os antigos combatentes de Bouaké serão bem tratados, nem todos estão optimistas. No mês passado dezenas de antigos combatentes dissidentes da principal organização rebelde, organizaram duas manifestações na cidade, bloqueando o trânsito na principal via da urbe, exigindo cerca de 80 mil dólares de indemnização por pessoa. Uma soma rejeitada pelo seu caracter irrazoável. O vice-ministro da defesa, Paul Koffi Koffi visitou Bouaké na semana passada e apelou os combatentes a calma.

Kaba Sory, um dos organizadores dos protestos, disse que os antigos combatentes foram abandonados a sua sorte. Sory adianta que depois da crise, descobriram que os líderes os abandonaram. Por essa razão que decidiram organizar as marchas para fazer lembrar ao governo de que estão ali.

A missão de paz das Nações Unidas na Costa do Marfim apelou várias vezes para um processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração transparente. Contudo e até ao momento, o governo tem mantido os detalhes do processo em segredo. Durante várias semanas, os responsáveis até então não responderam aos pedidos de entrevista da Voz da América.

O anterior governo tinha estimado haver mais de 100 mil antigos combatentes elegíveis ao DDR, mas pensa-se que esses dados foram baseados num recenseamento largamente visto como imperfeito e inflacionado. Agora o governo diz que vai reintegrar 64 mil ex-combatentes durante dois anos. Mas enquanto houver discrepâncias das estimativas, um diplomata com acesso ao plano, disse a Voz da América que apenas 6500 antigos combatentes estão para serem reconvertidos aos serviços públicos.
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