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China teme que os Estados Unidos deixe de pagar dívidas


Primeiro-ministro chinês, Li Keqiang
Primeiro-ministro chinês, Li Keqiang

Advertências dos membros do governo chinês aliados aos comentários da imprensa estatal revelam o quanto os dois países estão ligados economicamente, pelo bem ou pelo mal.

Numa altura em que os congressistas em Washington se aproximam do prazo limite que pode fazer dos Estados Unidos um não pagador de dívidas, na China, começam a surgir várias reacções.

Muito pouco poderá fazer o governo na eventualidade de os Estados Unidos cessarem de pagar as suas dívidas. Pequim apenas poderá se mostrar preocupado e esperar até que o debate sobre o tecto da dívida em Washington chegue a uma resolução antes do prazo limite desta Quinta-feira.

A imprensa estatal chinesa tem-se mostrado muito activa ultimamente usando o debate em torno da divida como uma oportunidade para apontar as falhas do sistema político democrático americano, em que os seus actores políticos são vistos como deficientes e imobilizados pelo impasse legislativo, que está em vias de colocar em risco o sistema económico mundial.

Num recente comentário na internet, o jornal Guoji Xianqu Daobao da China, alertou que os Estados Unidos estão em vias de lançar “uma bomba nuclear económica” susceptível de debilitar os mercados até a solução do impasse.

Um outro jornal, Shijie Xinwen Bao, usou a palavra conspiração, tendo argumentado que o encerramento parcial do governo federal americano era apenas um “esquema de Ponzi” ou seja uma “aldrabice” conduzida por Washington para manter o seu controlo de líder financeiro mundial.

O comentário que atraiu o maior número de atenção, é um artigo de opinião da agência estatal de notícias Xinhua, que apelou para um novo sistema económico mundial “desamericanizado.” Apesar do seu impacto ao nível internacional, esse artigo está a ter menos impacto internamente na China, já que não é publicado no país.

O artigo em questão apela para o estabelecimento de uma nova moeda de reserva internacional em substituição da dominante moeda americana, o dólar.

O antigo conselheiro de segurança nacional do presidente Barack Obama, Jeffrey Bader, diz que concorda com o que escreve a agência Xinhua sobre o estado horrível da situação. Bader adianta tratar-se de um episódio de desgraça na história americana, mas que os mercados irão determinar se de facto a moeda americana, vai continuar como outrora.

“Não vai ser determinado por um decreto em Washington ou pelo novo presidente da Reserva Federal. Os mercados em todas as partes irão determinar isso. Se Zhou Xiaochuan – presidente do Banco Popular da China, ou a Administração Estatal de Moedas Estrangeiras – decidir que amanha os 1,3 triliões em dólares de títulos de tesouro americanos estão ainda em demasiado risco, eles poderão procurar por outras alternativas.”

A semelhança de muitos outros países, uma grande quantidade de reservas da china em moedas estrangeiras – no valor 3,66 triliões de dólares – estão convertidos em tesouros americanos, há muito considerado como um investimento seguro e de baixo risco.

Esta particularidade da moeda americana tem sido a principal razão que o dólar continue a ser a pedra basilar do sistema financeiro mundial, como uma moeda que os países compram e guardam como uma reserva segura.

Nos últimos anos a China reduziu a compra dos tesouros, ao mesmo tempo que ficou com muito poucas opções em arrecadar os excedentes de sua economia alimentada pela exportação de bens e serviços.

A instabilidade financeira na Europa afectou a atratividade do Euro. E a China ainda não permitiu que a sua moeda fosse usada em transações financeiras fora de suas fronteiras.

Jeffrey Bader acrescentou contudo que a Pequim está a tomar medidas para fazer do renminbi, uma moeda de valor e muitos países já têm acordos de paridade monetária. Ele deu exemplos de acordos recentes nesse sentido entre Pequim e a Austrália, Nova Zelandia e muitos outros países da Ásia do Sudeste. Mas concluiu dizendo que a China mantem-se ainda longe em fazer do renminbi uma moeda de reserva, aliás o governo chinês não se mostra muito ansioso avançar nesse sentido.
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