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Rep. Centro Africana: Crianças acusadas de feitiçaria entregues à sua sorte


Mulheres ganianas, alegadas "feiticeiras", durante um encontro na aldeia de Kukuo no norte do Gana
Mulheres ganianas, alegadas "feiticeiras", durante um encontro na aldeia de Kukuo no norte do Gana

Críticos afirmam tratar-se de um fenómeno em crescendo e em relação com as crenças cistãs-evangélicas

Na República Centro Africana, é fácil exaltar as crenças pela feitiçaria que de certa forma determinam todo o comportamento social, embora outros as consideram como retrogradas ou estranhas.

Gabe Joselow repórter da VOA diz que as acusações contra crianças feiticeiras podem destruir as suas vidas enquanto grupo populacional mais vulnerável.

Sentada numa cadeira duas vezes maior que o seu corpo esquelético, Gracia, uma adolescente de 11 anos, vai balanceando as pernas enquanto conta com tranquilidade as perípécias que tem vivido.

Nascida de pais pobres, Gracia perdeu-os quando ainda era muito nova. Aqueles que a conhecem, afirmam que dede então, passou a agir muito estranhamente. Passou a ter sonhos estranhos.

Gracia diz que o tio com quem vivia chegou a chama-la de feiticeira.

“Quando vivia com a minha família” diz ela, “eles batiam-me a acusaram-me de feiticeira, porque tinha poderes de sair à noite. É por isso que me trouxeram aqui.”

Gracia vive agora num centro para crianças vulneráveis nos arredores da capital Bangui. Ela afirma que é tratada como todas as outras ciranças. Do seu passado ninguém sabe, a menos que ela própria o conte, quando as vezes vê-se na obrigação de explicar a razão de uma cicatriz por cima do olho esquerdo. Uma marca deixada por uma lamina durante um ritual de exorcismo.

Gracia diz que não acredita na feitiçaria. Mas, Michel Gbegbe, presidente da organização que dirige o centro, diz que pessoalmente que acredita.

“Acolhemos crianças que não sabiam que eram feiticeiras, diz Gbegbe. “Mas assim que começam a por em prática as suas acções enquanto foram crescendo, acabaram por entender que sim.”

Gbegbe diz que as suas acções têm como base os valores cristãos, e afirma que as crianças acusadas de feitiçaria são “curadas” através de orações e conselhos.
Apesar do conceito da feitiçaria ser história em algumas culturas africanas, na República Centro Africana e noutros países acredita-se que a sua prática aumentou com um cada vez maior numero de igrejas cristãs envangelicas.

A UNICEF tem documentado vários exemplos de pastores untando crianças com gaolina, administrando venenos e batendo nelas, em rituais de exorcismo.
Fosca Guilidori é chefe do serviço de protecção das crianças da UNICEF na República Centro Africana.

“Penso que em certa medida é uma reacção a modernidade, ao facto das pessoas serem mais pobres, e é uma forma que a sociedade encara para lidar com com a modernidade e globalização.”

A funcionária da UNICEF adianta ser difícl determinar o numero de crianças nessas condições, que muitas elas são as vezes postas fora de casa, tornando-se em meninos de ruas, em potenciais deliquentes, ou entregarem-se à prostituição. Para ela a reintegração social é a única via para ajudar as crianças acusadas de feitiçaria.
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