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Cabo Delgado: Linchamento de três agentes eleitorais reacende preocupação com atuação de milícias Naparamas


Milícias Naparamas
Milícias Naparamas

Milícias Naparamas, que auxiliam as forcas moçambicanas e os aliados da SADC e do Ruanda no combate ao terrorismo, mataram três agentes de educação cívica eleitoral, após os confundir com insurgentes, reacendendo a preocupação com a sua atuação destas em Cabo Delgado.

Analistas moçambicanos alertam que a atuação da milícia é uma ameaça ao Estado.

O incidente de linchamento dos três agentes eleitorais ocorreu numa aldeia de Catapua, no interior de Chiure, na sexta-feira, 8, e foi confirmado pelo director do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), em Cabo Delgado, Camal Cassamo.

Cabo Delgado: Linchamento de três agentes eleitorais reacende preocupação com atuação de milícias Naparamas
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“Eles tentaram explicar que estamos aqui a fazer a campanha de educação cívica, mesmo assim, eles foram arrastados da aldeia onde estavam até a sede do posto administrativo de Catapua, e foram linchados, suspeitos de serem terroristas”, disse Camal Cassamo, citado pela emissora estatal, Rádio Moçambique.

Este incidente ocorre quando o país se prepara para o arranque do recenseamento eleitoral, de 15 de Março a 28 de Abril.

A porta-voz nacional do STAE, Regina Matsinhe, disse, na segunda-feira, 11, que os educadores cívicos tinham se apresentado às autoridades, no início da manhã daquele dia, devidamente credenciados, e levavam consigo material do STAE, como megafones e coletes de identificação.

Ameaça

Analistas políticos moçambicanos, que seguem o conflito em Cabo Delgado, sugerem que o governo falhou na aposta de multiplicação de milícias, que são agora uma ameaça ao Estado, à sociedade e democracia, uma vez “não haver indicação de que o governo controla este grupo”.

Para Dércio Alfazema, director de programas do Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), apesar do incidente ser isolado, é preciso estabelecer o perfil e modo de atuação do grupo, para assegurar maior articulação entre estes, as autoridades, os órgãos de gestão eleitoral e as diferentes unidades das Forças de Defesa e Segurança em Cabo Delgado.

O também ativista de direitos humanos alertou que este incidente pode levantar receios a outros agentes cívicos eleitorais e que deve haver garantias de que este grupo tem um controlo das autoridades.

“Os naparamas, por não serem uma força formal, e eventualmente não terem uma estrutura e liderança muito clara e meios de articulação em si, pode ter havido défice de informação tendo acabado neste incidente, mas claramente que isto provoca algum medo, algum receio não só com os agentes eleitorais, mas também com todos outros que forem a se dirigir para os diferentes distritos de Cabo Delgado, para realizar as suas atividades”, disse Alfazema.

Por sua vez, o analista político, Tobias Zacarias, entende que os naparamas são fonte de desinformação, que colocam em causa vários esforços do governo, no acesso à saúde e na participação da população em processos democráticos.

“Nunca se pode usar milícias, ou multiplicar milícias para combater o terrorismo ou qual for a guerra, e as consequências são essas que estamos a ver; agora mataram agentes cívicos, mas não são as primeiras vitimas, já tivemos relatos da morte de lideres comunitários, supostamente por estarem a propagar a cólera, e quem andava a instigar isso eram os naparamas”, afirmou Zacarias, também docente universitário.

“Os naparamas estão a ser uma ameaça ao Estado, uma ameaça às sociedades, e estão a ser fontes de desinformação; é necessário que o estado estabeleça um diálogo com eles para que cessem de fazer isto”, acrescentou.

Entretanto, o Comandante Geral da Polícia moçambicana, Bernardino Rafael, garante que, fora deste incidente, trabalhos estão em curso para evitar que episódios semelhantes ocorram e que todas as fases do processo eleitoral decorram em segurança.

As sétimas eleições gerais, presidenciais e legislativas, estão marcadas para o dia 9 de Outubro.

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