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Brasil: Governo e centros comerciais chegam a acordo para conter "rolezinhos"


Os "rolezinhos" são encontros marcados pela internet por adolescentes e jovens, sobretudo, de classes mais pobres.

As direcções dos centros comerciais brasileiros pressionaram e conseguiram a participação do governo federal nas discussões sobre a postura do sector diante do fenómeno que tomou conta do Brasil, neste 2014, os “rolezinhos”.
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Representantes do governo vão participar, em São Paulo, numa reunião com os directores operacionais dos shoppings de todo o país.
A ideia do encontro é definir como a polícia e a segurança particular dos shoppings vão lidar com o recente fenómeno que começou a se propagar pelo Brasil, levando centros de compras a fecharem as portas nos dias programados pelos jovens para darem o “rolezinho”. Os "rolezinhos" são encontros marcados pela internet por adolescentes e jovens, sobretudo, de classes mais pobres, em várias cidades brasileiras. Eles acessam os centros de compras, pacificamente, reunidos em grandes grupos. Depois, costumam promover correria nos locais. Passam correndo por corredores entoando batidas do ritmo funk e reunindo mais integrantes, formando os chamados "bondes". Em alguns episódios houve registro de furtos, depredações e ameaças a lojistas.

O fenômeno gerou no Brasil um debate sobre como garantir o direito de circulação dos jovens, sem afastar os frequentadores que temem os tumultos. Levantou também um debate sobre o preconceito com a inserção dos jovens de classes menos favorecidas, grande parte afrodescendentes, nos ambientes de consumo das classes mais altas.

Em muitas cidades, a polícia brasileira foi acusada de ter posturas exageradas, preconceituosas e discriminatórias, já que os jovens são de classes mais pobres.
Os “rolezinhos” também deflagraram no Brasil uma onda de polémicas liminares da justiça impedindo a entrada de jovens em grupos nos shoppings. O presidente da associação que representa os shoppings, Nabil Sahyoun, alega que as liminares são para garantir a segurança.

“A preocupação é sempre com a segurança. Imagina se uma senhora grávida cai e acaba sendo pisoteada, perdendo a criança. Os shoppings vão ser processados. Vão dizer que os shoppings não são seguros. A busca da liminar é muito mais no sentido de proteger quando você tem um grupo muito grande para entrar ao mesmo tempo do que qualquer outra coisa,” afirma.

O representante dos lojistas admite que o setor, assim como boa parte do Brasil, não está sabendo lidar com o fenómeno do “rolezinho”.
“Um fato novo, ninguém tinha a percepção exatamente de como decifrar esses adolescentes, quais são os questionamentos deles. A gente ainda está exercitando essas questões. O que a gente está muito preocupada é que pessoas com outras intenções, de criar quebradeira, bagunça, têm que ficar de fora”.

Para especialistas, como o demógrafo Eduardo Rios Neto o fenómeno é um resultado social do crescimento da classe média, consumidora que agora quer espaço nos centros comerciais que antes não frequentavam. “Há certo exagero da elite, um certo medo desse fenómeno. Isso faz parte da democracia. Irrita quem tinha uma camisa de “marca” e agora vê essa “marca” esta difundida com todo mundo. Eu não acho que tem nada de doentio nisso, isso é altamente positivo.”.

O governo brasileiro vinha adotando esse discurso de que o fenómeno é reflexo natural das mudanças na sociedade brasileira, cada vez mais consumidora. Agora, no entanto, a atenção começa a crescer para evitar que se repita o que aconteceu em Junho do ano passado, quando protestos contra aumento das tarifas de ônibus se transformaram em um movimento que se alastrou para todo o país. O temor é que os passeios, “rolezinhos”, de jovens em shoppings, diante da repercussão que têm ganhado e da repressão, possam se transformar em algum outro grande movimento de protesto em ano eleitoral.
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