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Antigo estratega militar da Renamo e ex-guerrilheiros denunciam falta de fixação de pensões


Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique, e Ossufo Momade, presidente da Renamo, cerimónia de encerramento da última base da antiga guerrilha
Filipe Nyusi, Presidente de Moçambique, e Ossufo Momade, presidente da Renamo, cerimónia de encerramento da última base da antiga guerrilha

O relato é de fome e abandono.

O antigo líder da guerrilha da Renamo e estratega militar do líder histórico Afonso Dhlakama voltou a dizer nesta segunda-feira, 18, que os ex-combatentes continuam sem pensões fixadas e estão marginalizados, contrariando as garantias dadas pelo Governo, no início do mês, sobre o arranque do seu pagamento.

O responsável pelo processo na Renamo promete reagir em breve.

Timossse Maquinze afirmou que os ex-guerrilheiros da Renamo sobrevivem de biscates em campos agrícolas de civis e estão a ser abandonados pelas esposas devido à fome, poucos dias depois de o Governo garantir que 1.290 combatentes tinham as pensões fixadas até Dezembro de 2023.

Números do Governo

Um quarto dos mais de 5.221 antigos guerrilheiros da Renamo abrangidos pelo processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR) já estavam a receber pensões no final de 2023, segundo a mais recente atualização feita pelo Governo.

No passado dia 7, o Presidente da República recebeu em audiência o presidente da Renamo com quem abordou o “estagio atual” do processo de reintegração dos antigos guerrilheiros.

“O Chefe de Estado e o líder da Renamo consideraram o processo positivo, com acima de 74% de pensões fixadas e remetidas para o visto do Tribunal Administrativo, dos quais 34% já estão a receber as suas pensões”, lê-se no comunicado da Presidência divulgado na altura.

No balanço anterior, feito em 29 de Novembro, Filipe Nyusi, afirmou que 645 antigos guerrilheiros já tinham começado a receber pensões.

A realidade

Pedro Mussengue, administrador de Gorongosa, o distrito com maior número de ex-guerrilheiros da Renamo abrangidos pelo DDR, assegurou que o primeiro grupo dos 119 desmobilizados baseados no considerado bastião da oposição está a receber as pensões com retroativos.

O governante referiu que o início do pagamento das pensões abre boas perspetivas sobre a reinserção social dos desmobilizados da Renamo na Gorongosa, onde estava instalado o quartel-general da ex-guerrilha.

Entretanto, Timossse Maquinze voltou a lançar duras críticas sobre alegados atrasos e problemas na atribuição das pensões.

“Os combatentes desde que foram desmobilizados até hoje ninguém está a receber. Todos estão a sofrer e não têm dinheiro. Pensam que 1250 meticais é dinheiro para pensão de ex-combatente? Uns recebem 300, outros 325 e 350 meticais é isso que estão a dar aos desmobilizados e mentem que estão a pagar pensão. É enganosa a informação de pagamentos de pensões”, declarou Timosse Maquinze.

No contato que diz manter com os combatentes, Maquinze afirmou que muitos vivem marginalizados e abandonados, sendo que a maioria sobrevive de biscates em campos agrícolas de civis.

“Se vocês verem agora desmobilizados da Renamo vão sentir pena. Acabam dois dias na machamba de alguém a lavrar para receber cinco quilos de milho, e outros dois perde num outro campo para ter dinheiro para moer o milho e as esposas estão a lhes abandonar por causa da fome”, referiu.

Antonieta Gonzaga, partilha da mesma insatisfação, realçando que todos os projetos de geração de renda previstos no âmbito do DDR, "não estão a concretizar-se".

A Voz da América contactou o responsável do gabinete de DDR na Renamo, André Magibire, que mgarantiu se pronunciar oportunamente.

Numa declaração anterior, Magibire considerou "o atraso de fixação de pensões como um entrave para a democracia e a paz".

O processo de DDR, iniciado em 2018, abrange 5.221 antigos guerrilheiros Renamo, dos quais 257 mulheres, e terminou em junho último, com o encerramento da base de Vunduzi, a última da Renamo, localizada no distrito de Gorongosa, província central de Sofala.

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