"Não é verdade que Angola seja uma ditadura", disse ao “Angola Fala Só” o escritor e sociólogo angolano John Bella, que é também Director de Comunicação da Fundação Dr. Agostinho Neto.
Num animado programa que versou os mais variados temas, desde a literatura à educação e política, Bella defendeu que Angola só “começou em 2002” após os acordos de paz".
“Muita coisa não existia em Angola, mas começa agora a existir,” disse o escritor angolano que defendeu que a reconstrução precisa de tempo para poder vingar.
“Angola tem que se reorganizar e não teve tempo ainda para isso”, disse, afirmando que o país está contudo “pronto a se reorganizar”
Durante esse processo há que escolher entre diversas áreas de governação, disse o escritor em resposta a um ouvinte que se queixou da falta de fundos para a educação.
Outras áreas como a saúde e os transportes precisam também de fundos.
“Se o problema fosse só a educação então a educação estaria a 100 por cento”, disse.
O escritor, que foi também deputado do MPLA, disse que Angola não é reconhecida publicamente pelo papel que desempenha na resolução ou tentativa de resolução de conflitos em África.
“Angola tem sido o país chamado para gerir conflitos em África”, disse Bella.
“Qualquer guerra chama-se Angola, mas quando chega a altura dos prémios Angola já não tem direito”, acrescentou.
O sociólogo e escritor defendeu o direito à manifestação fazendo notar que “está na constituição”, mas, acrescentou, esse direito tal como muitos outros tem que ser exercido “de acordo com as regras”
“Nós temos liberdades mas para muitos a liberdade não tem limites”, afirmando ainda não concordar que os jornais estejam repletos de “bajulação” ao Governo e seus dirigentes.
A acusação de “bajulação” chegou a um ponto em que “tem que se mentir sobre o que se passa para não se ser acusado de bajulador”.
John Bella é o autor do livro “O regresso da Raínha Ginga” que venceu um prémio no Brasil e durante o programa teve a oportunidade de abordar essa personalidade da história angolana.
Para o sociólogo, o que mais o impressionou durante a sua investigação foi o facto de “conseguir resistir durante 40 anos a uma invasão”.
Numa altura em que o conceito de nação ou de Angola ainda não existia, John Bella fez notar a visão de Ginga em apoiar o reino do Bailundo e procurar aliados na Lunda para combater invasores estrangeiros.
“Foi uma pessoa muito adiantada em relação ao seu tempo”, afirmou Bella que disse ainda ano início do programa que para si a literatura infantil “é a mais séria” porque visa uma audiência que precisa ainda de aprender”.