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53 anos depois da criação da OUA, África continua a fazer face a muitos desafios


Refugiada do conflito de Darfur no Sudão
Refugiada do conflito de Darfur no Sudão

África deve deixar de ser consumidor de modelos de outros povos

O continente africano, considerado berço da humanidade, assinalou a 25 de Maio mais um aniversário de fundação da Organização da Unidade Africana, que mais tarde viria a ser denominada União Africana. Nos 53 anos de fundação da OUA, várias reflexões são feitas à volta dos problemas de ordem social, económica, financeira e política e militar que travam o avanço do continente.

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O historiador e antigo representante de Angola na UNESCO, Almerindo Jaka Jamba, refere que a partir dos anos 50, por altura da conquista das independências africanas, o continente começou a recuperar a sua soberania política, porém é chegado o momento de passar para uma nova fase. Fase esta que para o académico consiste em abandonar a marginalização a que está voltada por causa do processo de colonização, por um lado, por outro, por falta de uma gestão mais airosa dos Estados.

«As independências envolvem aspecos políticos, mas também económicos, aspectos diplomáticos. E, sobretudo ver o que constitui a força, a potência daqueles que estão mais desenvolvidos e vermos em que medida é que nós poderemos adoptar os modelos».

O economista Vicente Pinto de Andrade comunga da opinião do Historiador Almerindo Jaka Jamba. Para ele o continente berço das civilizações precisa ser visto numa perspectiva “de um prisma” e que compreende várias fases interligadas.

De acordo com o docente universitário, os conflitos militares nalgumas partes do continente pintam o quadro de África a negro, o que permite o ocidente ter uma ideia de conflitos generalizados. Vicente Pinto de Andrade aponta alguns pólos de desenvooolvimento de África, mas que são ofuscados pelo fumo dos canhões que pintam as nuvens do espaço aéreo africano.

«Há pólos. A África oriental é um dos pólos do crescimento. A própria África ocidental tem sido esquecida porque os conflitos no Mali e países limítrofes estão a criar ideia de que toda África ocidental está com gravíssimos problemas», disse.

Acrescentou que “temos condições em África para ver os problemas como desafios para poder garantir a sustentabilidade do processo e evitar que os conflitos políticos se transformem em guerra”, conluiu.

Para o historiador Cornélio Kaley os questionamentos à volta de África continuam, sobretudo porque apesar dos avanços, são os recuos que mais preocupam. Nesta aspecto, o Secretário de Estado da Cultura de Angola defende que os africanos precisam ter o seu próprio modelo de liderança dos Estados.

Para o governante angolano, actualmente, África terá se afastado das suas linhas fundamentais ligadas ao pan-africanismo. Kaley entende que as potências ocidentais que colonizaram África vêem neste continente a fonte para sua sobrevivência, no capítulo económico. «Não podemos copiar de quem não quer que sejamos nós mesmos. Temos que criar», defendeu o Secretário de Estado da Cultura.

A criação, na visão do Economista e professor universitário Fernando Heitor, passa pela assunção da sua própria identidade.

Angola poderá aderir à zona de comércio livre da SADC em 2017, segundo garantias das autoridades. Para o efeito, Fernando Heitor defende a definição de modelos desenvolvimentistas e progressistas, na medida em que, se deve explorar os recursos nacionais.

«Temos que ir neste sentido, de aumentar a produção interna, aumentar a riqueza nacional, a diversificação da economia, que também passa pelo turismo, mas temos que aproveitar o máximo os recursos, quer humanos, como naturais», considerou.

A igreja não ficou à margem das reflexões sobre os caminhos para o desenvolvimento de África. O reverendo Bitombokele Lei Gomes, pastor da igreja Kimbanguista, defende que o continente, tem potencialidades económicas fortes, porém precisa de uma ideologia sistemática.

«O africano é por natureza comunista. É preciso conceber um sistema ideológico que vai de acordo com a nossa realidade», enfatizou.

Lei Gomes chama atenção para que as lideranças africanas tomem providências em face de uma nova tendência de recolonização de África.

As desigualidades sociais e espaciais são aspectos muito visíveis em África, o que está a gerar conflitos em países como Somália, Nigéria e Chad. Para Vicente Pinto de Andrade existe uma coincidência no que diz respeito às desigualidades sociais, a pobreza, os conflitos étnicos e a pobreza. Segundo o economista são situações desta natureza que estão a dar lugar à “erosão dos Estados” e a Somália é o mais claro exemplo.

«Temos que olhar para o nosso processo de desenvolvimento de uma forma global e ter em conta as assimetrias, que são muitas em alguns países, e que são os obstáculos que temos que enfrentar», aflorou.

África deve deixar de ser consumidor de modelos de outros povos se quiser despontar-se no concerto das nações no que toca o desenvolvimento. Para Almerindo Jaka Jamba o desenvolvimento do continente deverá passar pela definição de um paradigma próprio, voltado para a realidade local. Nesta perspectiva a escola sem alienação na formação do homem poderá ser uma das saídas.

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