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Uma paz relativa em quase todo o continente africano - 2005-01-25


Para além da região de Darfur, no ocidente do Sudão, e uma mão cheia de conflitos em ebulição, regista-se uma paz relativa em quase todo o continente africano. Acordos de paz foram assinados para resolver conflitos no Sul do Sudão e no Senegal. Acordos de cessar-fogo estão a ser aplicados em vários outros países. Mas, analistas políticos advertem que as causas por detrás dos conflitos existentes em África têm que ser ultrapassadas por forma a evitar uma vaga de conflitos mais generalizados naquele continente.

Libéria, Serra Leoa, Angola. Todos estes países celebraram acordos de paz que levaram a eleições e criaram a esperança de que anos de guerra foram finalmente ultrapassados. Mas a guerra voltou a reacender-se. Aquelas nações estão hoje, de novo, em paz. Mas queixas de corrupção e de favoritismo voltaram a acumular-se na Serra Leoa e na Libéria - dois países que os analistas afirmam poderão ser facilmente desestabilizados, caso a guerra rebente de novo na vizinha Costa do Marfim.

O número de nações africanas em guerra diminuiu significativamente nos últimos anos. Apenas no mês passado, dois velhos conflitos africanos (no Sul do Sudão e na região senegalesa de Casamança) chegaram ao fim com a assinatura de acordos de paz.

E estão em curso iniciativas para levar a paz à Somália, ao Uganda e à região sudanesa de Darfur e ainda para consolidar a paz no Burundi, no Congo e na Costa do Marfim.

Mas, será que a paz será o bastante?! Herb Howe é professor de Estudos Africanos na Universidade de Georgetown, em Washington. ”A minha preocupação é que os problemas subjacentes às causas dos problemas africanos não tenha sido resolvidos. Refiro-me, por exemplo, a corrupção, a cleptocracia, os apelos oportunísticos de carácter étnico e religioso. Até que estas questões não estejam resolvidas, iremos ter problemas.”

Howard Wolpe é o director para o programa para África do Centro Internacional Woodrow Wilson. Na sua opinião, alguns programas de ajuda externa reforçaram as desigualdades que geraram os conflitos. ”No Burundi, por exemplo, no passado, o apoio externo em dólares reforçou em larga medida os esforços do Estado que é dominado por um pequeno subgrupo da minoria tutsi. Por isso, a ajuda externa em dólares teve o efeito de entrincheirar ainda mais aquela minoria, prestando muito pouca atenção à exclusão da vasta maioria da população, dando lugar a diversas formas de políticas discriminatórias, consagrando a exclusão das minorias”.

Wolpe, que serviu como enviado especial dos EUA para a África Central, afirma que os doadores necessitam de pensar mais a longo prazo relativamente à ajuda que providenciam.

Stephen Morrison, o director do programa para África do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais, afirma que isto é particularmente verdadeiro logo que um acordo de paz seja assinado. ”Conseguir negociar um acordo é um primeiro passo. E temos visto isso em todos os casos que requerem continuada reinvenção, reinterpretação, redefinição de objectivos, bem como a renovação de compromissos regionais e internacionais para fazer avançar as coisas.”

Líderes africanos aumentaram consideravelmente o seu envolvimento no processo de manutenção da paz no continente, nomeadamente através da União Africana. O presidente sul-africano Thabo Mbeki, visitou recentemente tanto a Costa do Marfim como o Congo. Apesar da presença de forças de manutenção da paz, combates eclodiram naqueles dois países, nos últimos meses.

Morrison põem em causa a sustentabilidade de manter uma paz instável, com custos elevados, em países como o Congo, onde há pelo menos mil e 200 soldados das forças de manutenção da paz. ”É a mais cara operação de manutenção de paz da história das Nações Unidas, continuando a demonstrar que se têm feito alguns progressos por forma a manter o interesse em parte porque o Congresso dos EUA e o Conselho de Segurança estão a pagar as contas.”

Ahmed Rajab, editor da revista ”Africa Analysis”, que se publica em Londres, afirma que os africanos chegaram à conclusão de que têm de fazer tudo ao seu alcance para se ajudarem a si próprios. ”As pessoas estão agora a olhar para si próprias e estão a tentar ver o que podem fazer para usar os seus próprios recursos, limitados que sejam, para melhorar as suas condições. Por exemplo, como vimos na República da Somália onde usaram o tradicional mecanismo de resolução de conflitos para resolver aquele problema”.

O clã dos mais velhos, na Somália, reuniu-se para conversações sobre áreas de conflito na auto-proclamada república, em vez de o terem feito no estrangeiro, por forma a estarem em contacto directo com as partes envolvidas. Todos os membros da comunidade estavam autorizados a participar e a agenda estava aberta a uma vasta gama de temas.

Rajab afirma que, embora África se tenha tornado cada vez mais confiante nas suas próprias capacidades, ainda assim necessita do apoio da comunidade internacional, especialmente no que diz respeito à União Africana.

Rajab adianta que a melhor ajuda que o Ocidente pode dar é abster-se de interferir directamente, tomar partido ou fazer julgamento sobre o que se está a passar. A União Africana, afirma aquele jornalista, pode assumir a liderança.

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