Links de Acesso

Cerca de 30 milhões de armas ligeiras  - 2004-12-28


Estima-se que existam cerca de 30 milhões de armas ligeiras em toda a África subsaariana, estando à maioria paradoxalmente nas mãos de civis e não na dos soldados.

O numero de armas nas mãos de civis, tem causado preocupação aos governos africanos, pelos perigos que representam a estabilidade dos países e a segurança das populações.

Cerca de 200 mil pessoas são mortas anualmente no continente africano na sequência daquilo que os especialistas consideram de ausência de um cerrado controlo das armas, nas mãos de civis.

Entenda-se por armas ligeiras, toda a espécie de armamento, nomeadamente espingardas, pistolas, lança granadas, armas antitanques, ou geralmente qualquer armamento de fácil manuseamento e portátil.

A abundância de tais armas contribui em parte para o aumento do terrorismo ou do crime urbano que em cidades tais como Abidjan, Nairobi, Joanesburgo tornou-se em parte incontrolavel pelas forças da ordem.

Para alem da ameaça da guerra ou do alastramento da sida no continente, a violência associada ao numero de armas nas mãos de civis constitui a grande ameaça para as sociedades em muitos países de África.

Stephen Emerson e o chefe do centro de estudos sobre a defesa e a segurança, com sede aqui em Washington.

“O problema é o de que no inicio lidamos com instituições frágeis e quando esse acesso às armas, nos facilita o acesso ao poder, está-se perante um significativo desafio para os governos. Mesmo que tenhamos que cortar hoje o fluxo de armas para a África, continuaremos a ter problemas. Existem armas da segunda guerra mundial circulando em toda a África.”

Em alguns casos, são os próprios exércitos a estarem desactualizados quando se trata de armamentos.

Owen Greene e especialista de questões de prevenção dos conflitos e da segurança em África da Universidade de Bradford na Grã Bretanha.

“Não raras vezes essas armas são retiradas ou vendidas de forma corrupta pela policia ou dos arsenais militares. Por exemplo existe um certo numero de países, que posso citar, como países onde o simples facto do governo ser irresponsável, permite a infiltração de grandes quantidades de armas nas sociedades, ou da sua transferencia para as milícias ou grupos similares...são situações que acabam por marcar a diferença.”

O caso da Republica Centro Africana e um exemplo. Durante os anos 90, muitos grupos desavindos tiveram acesso às armas, incluindo os militares amotinados, algo que se tornou frequente.

“Quando se está perante um país, onde a possibilidade de ocorrência de conflito e real, os crimes violentos, bandos armados, facções, maridos violentos e por aí fora, podem usar as armas com a maior impunidade possível. Um grupo de dez homens alienados, pode ser mais facilmente controlável se não tiverem acesso a armas semi-automáticas ... Dando-lhes dez armas semi-automáticas de um momento para o outro, exacerbam em todos os aspectos, a função das forcas policiais, desafiando inclusive as lideranças.”

O problema de acordo com alguns analistas tem influído no terrorismo. Ha dois anos atrás, terroristas que se acreditava terem ligações à rede Al Kaida usaram mísseis portáteis terra ar para tentarem abater um avião da linha aérea comercial de Israel que instantes antes levantara voo do aeroporto de Mombaça, no Quénia.

Ha dez anos atrás, terroristas islâmicos na Argélia desviaram um aparelho das linhas áreas francesas que ameaçaram fazer embater-se contra a Torre Eifel em Paris.

Em 2001, aconteceu o 11 de Setembro, aqui nos Estados Unidos. Hoje especialistas, tal como o Stephen Emerson do Centro de Defesa com sede aqui em Washington, apontam os chamados estados falhados, nomeadamente a Somália, o Afeganistão sob o regime taleban, estados caracterizados pela ausência de um governo solido, como santuários, a partir dos quais os grupos terroristas podem facilmente conspirar e preparar novos ataques, longe da atenção mundial e rodeada de toda a espécie de armamento.

“Em África, uma das maiores preocupações é o que chamamos de sistema de defesa aérea portátil... engenhos tais como os mísseis terra-ar de fácil acesso no continente. Existe uma preocupação quanto a possibilidade dessas armas, que existem em numero elevado em África, possam ser transferidos para outras partes do mundo e serem usadas em ataques contra aviões comerciais ou outros alvos.”

Perante este cenário o que se pode realmente fazer para se controlar o risco que o fluxo e a circulação de armas nos países de governos instáveis e vulneráveis ao crime organizado?

Para alem da identificação e eliminação das reais causas dos conflitos, especialistas em questões de segurança, tal como Owen Greene defendem um melhor e mais efectivo controlo das fronteiras dos países africanos como parte da solução.

“Necessitamos de uma abordagem mais abrangente... que passa pela prevenção de novos fluxos de armas para áreas já em desestabilização. E aqui existe uma certa responsabilidade da parte dos países vizinhos. Na pratica, em África a maior parte das armas entram num determinado país, através dos estados vizinhos, mesmo quando são originários de outros terrenos.”

Mas outros especialistas defendem ser igualmente necessário a adopção de leis fortes e rígidas, por forma a que as pessoas não se sintam, conforme defende Owen Greene, na necessidade de se armarem até aos dentes.

XS
SM
MD
LG