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Enquanto agência de espionagem - 2004-11-17


Enquanto agência de espionagem, a CIA prefere a sombra à luz do dia. Mas, nesta altura a CIA está em foco uma vez mais depois do seu novo director, Porter Goss, ter assumido as suas funções.

O principal responsável pelas operações clandestinas da CIA, Stephen Kappes, e o seu adjunto, Michael Sulick, apresentaram as suas demissões na segunda-feira. O número dois da CIA, John McLaughlin, demitiu-se na semana passada, invocando razões pessoais.

Michael Scheuer, que chefiava a unidade da CIA responsável pela perseguição de Osama Bin Laden, que escreveu dois livros anonimamente, também deixou aqueles serviços secretos para poder falar publicamente.

Numa entrevista à VOA, comentou que as notícias das demissões de destacados elementos da CIA transpiraram rapidamente através das paredes da sede daquela organização para as primeiras páginas dos jornais e telejornais.

”Aqueles rumores circulavam na agência. Teria alguma coisa a ver com confrontações pessoais? Seria uma limpeza baseada na percepção de que, de alguma forma, a CIA favoreceria o Partido Democrático e não o republicano? Eu certamente desejei que esta última razão não fosse verdadeira, porque penso ser uma questão que não tem razão de ser.”

Uma comissão do Congresso, liderada pelo antigo congressista Goss, e a comissão que investigou os ataques terroristas do 11 de Setembro de 2001 foram ambas altamente críticas do papel da CIA e de outros serviços secretos no período que antecedeu os ataques.

Algumas versões referem que o estilo brusco do director Goss e dos seus adjuntos relativamente aos serviços clandestinos terá estado na base da vaga de demissões. Outros alegam que Goss desencadeou uma purga partidária por entender que a CIA teria alguma relutância em aceitar as políticas do presidente Bush.

O senador republicano, John McCain afirma que Goss tem todo o direito de impor o seu estilo à organização que dirige e que o novo director tem vindo a ser injustamente criticado por funcionários de carreira entrincheirados nas suas antigas posições naqueles serviços secretos.

”Ele está a ser atacado por pessoas que querem manter as coisas como estão. E o status quo não é satisfatório. Estamos perante uma agência que é disfuncional e que, em certa medida, é uma agência pária”.

A congressista Jane Harman, uma democrata com assento na Comissão dos Serviços Secretos da Câmara dos Representantes, afirma serem necessárias mudanças na CIA, mas acrescenta que o director Goss as está a fazer de uma forma agressiva”.

No entanto, um antigo agente da CIA, Michael Scheuer, afirma que os espiões de carreira estão irritados pelo facto dos serviços clandestinos terem sido transformados no bode expiatório de todos os erros cometidos sobre o Iraque e sobre os ataques do 11 de Setembro.”

”Penso que a questão principal é a acumulação da frustração no seio das operações clandestinas pela forma como têm vindo a ser condenados, primeiro pela Comissão Goss/Shelby no Congresso e depois pela comissão do 11 de Setembro”.

Os dois livros da autoria de Scheuer, publicados sob o pseudónimo Anónimo, tece duras críticas às iniciativas anti-terroristas dos EUA, críticas à CIA entendidas nalguns círculos como apoiadas pelo presidente Bush. Os livros foram autorizados pelos responsáveis da CIA antes da sua publicação e o seu autor teve uma extraordinária latitude para dar entrevistas aos órgãos de comunicação social sem autorização prévia.

Mas Scheuer afirma que não muito antes de se ter demitido viu o seu livre acesso aos media cortado depois de ter afastado a ideia de que os seus livros não eram anti-Bush.

”Enquanto o livro foi erradamente interpretado como um ataque ao presidente, tive livre acesso aos media. Mas empenhei-me nas minhas entrevistas em desfazer essa impressão, tentando explicar o que realmente era o livro. E por qualquer razão, logo que me fiz entender, puxara-me o tapete debaixo dos pés.”

Numa mensagem aos funcionários da CIA, cita pelo Washington Post, o director da agência (Porter Goss) disse que aqueles serviços secretos se devem preparar para mais mudanças nos tempos mais próximos.

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