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Crise social assola a população do Uije - 2004-05-19


Uma crise social assola a população do Uije agravada com o aumento do preço dos combustíveis que, entretanto, vem de há muito tempo a esta parte.

Antes mesmo da medida do executivo central em Luanda, já a população local comprava a gasolina ao preço de 30 Kwanzas e agora está a adquiri-la a custo que varia de 50 a 80 Kwanzas. Esta alta dos preços do combustível, e por arrastamento dos demais produtos, encontra justificação no facto de os comerciantes privados, os únicos a levarem para lá o combustível e outros produtos, arriscarem viagens em estradas esburacadas. O abastecimento de energia eléctrica a cidade é deficiente e a água consumida é retirada das cacimbas locais, vendida depois por senhoras que podem ser encontradas em cada esquina da capital do Uije.

Elas calcorreiam a cidade o dia todo para arrecadarem algo como 500 Kwanzas, em dependência da procura, suportando ainda as correrias para fugir da policia.

“Temos que fugir da policia, porque eles estão sempre atrás de nós. Nós estamos aqui porque não há empregos e os nossos maridos estão desempregados. Temos lavras para cultivar, mas temos de repartir o tempo entre a lavra e este negócio que nos permite comprar sabão e outras coisas”. Entretanto, as consequências do consumo desta água são visíveis no numero de pessoas internadas nos hospitais. As crianças são as mais afectadas e o hospital pediátrico paga a factura mais alta.

O médico André Finda, entrevistado no local, disse que, por esta altura do ano, o hospital, onde doze camas são repartidas por mais de 30 crianças, é pequeno demais para a demanda de tratamento.

“No banco de urgência recebemos diariamente mais de 20 crianças. O hospital não tem condições, aquece muito. A partir das 18 horas isto parece um ferro quente”.

A vida local é dominada pelo comércio informal, onde apenas os produtos do campo são vendidos a preços relativamente mais baixos que os demais levados pelas viaturas que diariamente cruzam as estradas em mau estado que dão acesso à cidade.

A respeito das estradas, o governador interino da província, António João “Sokolov”, disse que a reparação da estrada que liga a província a capital do país, que não recebe obras de beneficiação há mais de 30 anos, é da responsabilidade do governo central que prometeu, através do ministro das Obras Públicas, repará-la ainda este ano.

O governo local tem responsabilidades sobre o estado da rede de estradas do interior da província, mas alguns empreiteiros agem de má-fé e não entregam as obras nos prazos previamente acordados, acabando mesmo alguns por abandoná-las ou desaparecer com o dinheiro.

Esta situação levou já a que o governo local levasse ao tribunal quatro empresas privadas por incumprimento dos prazos de entrega de algumas obras a si adjudicadas. De qualquer dos modos, tendo em vista a circulação de mercadorias entre os municípios e a cidade do Uije, esta rede de estradas poderá ser melhorada brevemente.

“As outras estradas que ligam a cidade do Uije aos municípios do Puri, Quimbele, Negage e outros vão merecer uma reparação ainda este ano como prometeu o ministro das Obras Públicas, Higino Carneiro. Hoje mesmo recebi uma equipa de engenheiros que esteve a fazer um estudo e os trabalhos arrancam ainda este ano”.

A província acaba de ser contemplada com 20 milhões de dólares que, segundo o governante local, vão ser empregues em investimentos na área social, por forma a melhorar cada vez mais a oferta de serviços à população. Com este dinheiro António João disse que serão construídos escolas e hospitais em alguns municípios da província, onde a situação é tida como crítica.

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