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O comercio entre o estado Yoruba do Oyo e seus vizinhos - 2004-04-02


O comercio entre o estado yoruba do Oyo e seus vizinhos da savana, sobretudo as cidades hausas, ligadas ao comercio do Mediterrâneo através do Saara, mais ao norte, era superior em intensidade de frequência e variedade de produtos, ultrapassando o volume da trata esclavagista com os Europeus na costa, premissa menor de Ade Ajayi de Ibadan que defende que por essa razão o comercio de escravos não pode explicar a crise dinástica do Oyo durante os séculos do declínio, antes da ocupação colonial :Tomé Mbuia João :A África no Século Dezanove ao Encontro da Europa.

Dizíamos na conversa passada que Ajayi recordava um dos capítulos pouco citados da historiografia das relações entre europeus e africanos anteriores à ocupação colonial capitulo esse, mais tarde, pedra angular e tese que veio a fundamentar o interesse da Europa na ocupação do Continente Africano culminando na Conferência de Berlim e parcelamento da África entre as potências europeias, tanto aquelas que participaram no comercio esclavagista desde séculos como outras mais. Ajayi esclarece que a trata não dominou nem esgotou as relações comerciais entre Africanos e Europeus naquela costa atlântica oeste africana e que efectivamente, ao fim e ao cabo, escravos não tinham sido necessariamente o que os Europeus estavam à busca entre os Africanos durante a longa história de contactos que começa com os Portugueses, no século quinze, e assume o seu auge final em Berlim por Bismarck, em 1885.

Outrossim, a economia total do Oyo, não dependia muito das transacções com os Europeus, senão antes, dos ciclos periódicos de trocas de produtos agrícolas interregionais do estado yoruba, apesar dos vários níveis das influências comerciais que os europeus exerciam naquela zona costeira africana. Além da agricultura, os intercâmbios das regiões interiores da terra yoruba eram dominados por uma industria manufactureira de vários produtos que não figuravam, em primeiro lugar, no elenco do comercio com os europeus.

Independentemente também, os Yorubas conheciam e trabalhavam o ferro, do qual fabricavam as munições para a sua cavalaria, de muita história na floresta e savana oeste africana. Ao norte do Oyo estavam os estados hausas, desde sempre ligados ao comércio do Mediterrâneo pelo grande Deserto Sahariano. Uma realidade em operação quando os Europeus apareceram primeiro na costa no século quinze e desde então.

Alguma vez em conversas anteriores, indicámos o que animava esta via comercial tripartida - o Sahara no norte, os Hausas no centro, e o Yorubas e outros, nas zonas mais ao sul da savana – floresta e extremidade costeira atlântica. Três zonas ligadas por uma rede comercial complementar:

Animava esta zona sobretudo o comercio dos produtos da terra. A noz de cola, a famosa ”cola-nut” dos ingleses, trocavam-na os Yourubas, Mandingos, Mossis e outros povos sudânicos da floresta ao sul, com os Hausas, mais para cima da curva do Niger. Havia também o comercio interregional de têxteis de algodão, sobretudo das cidades hausas, mas também dos Yorubas que os fabricavam para vestuário, tecidos estes que fizeram muita história, mais tarde, em competição com os que os Europeus traziam da Índia ou da própria Europa, e que os Africanos não compravam, preferindo as suas próprias produções mais coloridas, sem comparação com as europeias. Parágrafo este que faz boa leitura na história comercial comparada da região, aqui citada de passagem, por fazer parte apenas incidental deste contexto.

A floresta e os mares regionais produziam mais ainda, ceras e madeiras, borracha, óleos de palma, peles, e mais do que a pesca, um sal marinho feito das algas marítimas das zonas costeiras, muito trocado com os produtos do norte.

Falaremos deste comercio mais adiante nestas conversas, promessa feita. Muitos destes produtos vieram mais tarde a constituir a essência mesma do chamado comercio legitimo em contraposição com o que veio a chamar-se comercio ilegítimo, ou seja a escravatura ultramarina. Mas para os Yorubas do Oyo, havia mais uma razão, mais forte do que todas as outras, que os forçava a virar-se para o norte, para os estados comerciais hausas, mais principalmente Nupe, o ultimo estado hausa mais ao sul; logo ao norte do estado Yoruba do Oyo. O poderio militar do Oyo dependia da sua cavalaria, mas o Oyo não produzia cavalos, devido à mosca tsetse - a mosca do sono, na zona em que o Oyo se consolidara como potência militar.

História esta também muito ramificada e interessante, que temos que cortar aqui, para afirmar apenas que Nupe, durante estas mesmas horas de crise, foi ponto vulnerável por onde passou uma força oportunista de aventureiros jihadistas hausas que vieram atacar e ocupar a cidade youruba na fronteiriça Ilorin, que mais tarde um famoso chefe guerra yoruba, de origem, primeiro -Areona Kakanfo, chefe militar depois, Afonja, tentou libertar muito em vão. Ilorin ficou para sempre parte das conquistas hausas, ao norte, à custa dos yourubas, ao sul.

Parágrafo importante nas relações entre hausas e yourubas naquele ponto de encontro das duas culturas da savana. Até aqui a premissa menor do prof. de Ibadan contra o argumento do comercio com a Europa poder explicar a crise do Oyo nos séculos do declínio. Voltaremos

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