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Angola: Carta Aberta a Hillary Clinton


Ao contrário do que fora ontem transmitido de fonte diplomática segura, até altura em que expedíamos esta apontamento nada tinha sido publicado sobre o programa oficial da visita da responsável americana o que é de certo modo compreensível, dada a necessidade da contenção de alguma informação, mantendo-se todavia a nossa previsão dos contactos que irão ser estabelecidos ao nível bilateral com as autoridades locais, em vista dos possíveis novos Acordos que vão diversificar os negócios entre os dois países.

Por confirmar fica igualmente se para além destes contactos, Hillary dedicará algum do seu escasso tempo à sociedade civil organizada.

Nesta sexta-feira foi posta a circular uma Carta Aberta, subscrita por seis conhecidas figuras da sociedade, entre elas académicos e activistas dos direitos humanos.

O documento reflecte o ponto de situação política, social e económica que faz a realidade do país diferente daquele que é pintado.

Lê-se na carta " o nome de Angola tem-se destacado nos corredores diplomáticos internacionais e no mundo dos negócios, por causa de ter aumentado a sua capacidade de exportação de petróleo... o que esconde uma realidade política brutal, na qual campeiam a corrupção liderada por titulares de cargos públicos, má governação e violação reiterada de direitos humanos."

A carta salienta igualmente aquilo que considera ser as facilidades de acesso aos negócios que familiares de pessoas ligadas ao poder político têm e cita por exemplo a passagem da gestão do Canal 2 da televisão pública (TPA2) para uma das filhas do presidente, estando em vias de acontecer o mesmo com o Canal 1.

O acesso privilegiado às licenças e frequências para as emissões radiofónicas e de televisão é outras das referências constantes desta carta, bem como o exercício de cargos públicos em acúmulo com outras funções incompatíveis, o que acontece com destaque no sistema de justiça.

A carta trata igualmente daquilo que considera ser " os desalojamentos forçados e esbulhos de terras, sem o devido respeito pelos procedimentos estabelecidos por lei.

O adiamento implícito das eleições presidenciais, a subestimação do preço do petróleo no processo de previsão das receitas orçamentais, constam da missiva na qual os subscritores pedem que a Administração Obama "não desenvolvam uma política externa que constitua uma prática de cumplicidade e incentivo ... que violam a tradição africana humanista e os valores universais que estão consagrados na actual Constituição e leis ordinárias angolanas..."

Lê-se ainda nesta Carta Aberta que "os ideais duma humanidade livre terão maiores possibilidades de se concretizarem se os Estados Unidos da América estiverem comprometidos, em África e no Mundo, com uma política de valores, em vez de guiados por interesses estritamente económicos e ou militares, conscientes de que é dessa forma que se poderá promover a verdadeira paz e o equilíbrio mundial".

Com o movimento da diplomacia de Washington a ser associado à crescente necessidade de busca de novos mercados que alimentem a sua indústria, o nosso correspondente em Luanda, Alexandre Neto, perguntou ao economista Filomeno Vieira Lopes, como poderia ser bem sucedida esta carta (endereçada à secretária de estado norte-americano Hillary Clinton) no interesse dos seus subscritores?

"Que tome em conta que a estabilidade mundial, a estabilidade dos países faz-se na base dos interesses que os países têm que equacionar, mas o que a torna sólida são os valores porque os negócios se fazem. É por aí que nos entendemos que há uma porta de auscultação destas questões que se colocam aqui em Angola e no seu relacionamento internacional, por forma a que o povo não venha a sofrer mais com as regulações internacionais, porque naturalmente quando existe uma exploração por causa das nossas riquezas, por exemplo o petróleo, e se devido ao petróleo a maioria ficar com a poluição e apenas um sector muito restricto ficar com os rendimentos é evidente que isto não é nada bom para a estabilidade, portanto o que no fundo estamos a dizer és que as relações internacionais, o mundo a todos nos pertence, devem ser feitas na base dos valores para evitarmos as crises que constantemente nos assolam."

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