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Harare: Propriedade das Terras e Sua Utilização


Realizou-se esta semana em Harare uma conferência sobre o meio ambiente patrocinada pela União Europeia. Os organizadores esperam que o evento desencadeie um diálogo multi-partidário sobre a propriedade das terras e a sua utilização, um tema que continua no centro do conflito político naquele país.

O embaixador da União Europeia Xavier Marchel esteve na origem desta conferência. A ideia era a de suscitar um diálogo entre diplomatas ocidentais e entidades governamentais zimbabueanas acerca da utilização sustentável das terras e de outras riquezas naturais.

Marchel persuadiu mesmo entidades do partido do presidente Robert Mugabe, a ZANU-PF, a participarem no debate para tentar recuperar os devastados recursos naturais do país. Apesar do habitual silêncio oficial, durante esta conferência as entidades oficiais zimbabueanas admitiram abertamente que as últimas décadas foram desastrosas.

Por exemplo o ministro da educação David Coltart não poupou palavras afirmando que os recursos naturais tinham sido violados.

"Desflorestação em larga escala, caça furtiva generalizada dizimando grande parte da nossa fauna e prospecção de ouro não-regulamentada que destruiu grande parte dos nossos rios."

Logo depois da independência do Zimbabué no inicio da década de 80, muitos sectores começaram a criticar o presidente Robert Mugabe por causa da sua reforma agrária acusando-o de beneficiar os seus apoiantes. As críticas intensificaram-se quando desencadeou o seu caótico programa de reforma agrária na sequência do aparecimento do Movimento para a Mudança Democrática, MDC, no ano 2 mil. Mais de 4 mil fazendeiros brancos foram obrigados na deixar as suas propriedades e a produção de bens alimentares entrou em colapso.

O ministro de estado Gordon Moyo representou o primeiro-ministro Morgan Tsvangirai nesta conferência e afirmou que a enorme quebra de produção agrícola afectou a economia na sua totalidade e admitiu que o governo de unidade estava a ser lento no que se refere a resolver o conflito agrário no país.

" O ritmo é lento e reconheço que as pessoas estão frustradas. As populações das zonas rurais estão cansadas com a lentidão com que estamos a lidar com a questão das fazendas."

Moyo, que pertence ao MDC, salientou no entanto que o actual governo de unidade é um governo de transição e que portanto isso dificulta a sua actuação. Aludindo aparentemente a líderes do partido ZANU-PF de Mugabe, obstáculos estão a ser colocados frequentemente no caminho do progresso. Disse contudo que tanto eles como o seu partido estão empenhados em fazer com que as coisas andem para a frente.

Moyo acrescentou que a produção agrícola do país e a preservação do seu meio ambiente e das suas belezas naturais são fundamentais para a recuperação do seu país. Disse contudo que o Zimbabué não pode dar inicio à recuperação sem a assistência e o apoio financeiro dos governos ocidentais.

" A nova filosofia, a visão global do governo de unidade é captar a atenção do Mundo. Podemos ter boas ideias, mas se não tivermos os recursos, se não tivermos apoio serão apenas boas ideias que vão ser arquivadas e que nunca verão a luz do dia."

De referir que desde a formação do governo de unidade há 100 dias, as pressões sobre os poucos fazendeiros brancos que restam aumentou drasticamente. Poucos deles cultivarão as terras este inverno e no final do ano é muito provável que milhões de zimbabueanos venham de novo a necessitar de ajuda alimentar. Quanto aos agricultores tradicionais que cultivam essencialmente o milho, afirmam que não conseguem trabalhar porque não dispõem de sementes e de utensílios agrícolas.

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