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Armas e Ajuda nos mesmos aviões


Um novo estudo indica que as mesmas companhias que transportam armas para as zonas de conflito em África, muitas vezes são contratadas pelas agências internacionais para o transporte dos abastecimentos humanitários e operações de manutenção de paz nas mesmas áreas.

De acordo com o relatório, levado a cabo pelo Instituto Internacional de Pesquisas da Paz, sediado em Estocolmo, um proeminente grupo de estudiosos que se dedicam a investigar as transacções de armamentos a escala mundial, 90 por cento das companhias aéreas de carga, ligadas ao tráfico de armamentos, foram também utilizadas pelas agências das Nações Unidas, pelos governos ocidentais ou pelas ONGs para o transporte de ajudas humanitárias.

O estudo identifica o Sudão como constituindo um dos casos mais sérios, nesta logística internacional. Um dos autores do estudo, Hugh Griffiths, disse que as missões de manutenção de paz das Nações Unidas tem contratado helicópteros e aeronaves pertencentes as mesmas companhias sudanesas que tem sido utilizadas no transporte de armas aos soldados pró-governamentais em Darfur, em violação dos embargos de armamentos:

"São aviões e helicópteros que levam os símbolos e motos das Nações Unidas, pintados de branco, dedicados primariamente ao transporte aéreo e apoio logístico as missões de manutenção de paz das Nações Unidas. Mas eis senão quando terminam as missões das Nações Unidas, as mesmas companhias não apagam os símbolos das Nações Unidas, gravados em branco, mas em vez disso, utilizam os aparelhos no transporte das tropas das forças armadas sudanesas para as zonas de combate terrestre."

Hugh Griffiths sublinhou que muitas das companhias aéreas de aviões de carga que operam no Sudão são controladas pelos membros da classe militar sudanesa que auferem importantes lucros tanto dos conflitos armados como das operações de ajuda.

De acordo com o relatório, problemas similares surgem também noutras zonas da África Oriental, tal como acontece na República Democrática do Congo, onde as agências humanitárias, regularmente utilizam companhias ligadas a senhores da guerra envolvidos nas actividades mineiras. Referem os autores, citando como exemplo a companhia americana privada, de segurança, Dyncorp, que tem sido contratada pelo governo americano para o apoio a missão da União Africana, na Somália, integrava, por sua vez, uma companhia de transporte de carga, acusada de fornecer armas a Al-Shabab, um grupo miliciano de linha dura, com ligações a Al-Qaida.

Os autores do estudo admitem que são raras as companhias cargueiras não implicadas nestas transacções. Hugh Griffths adianta que na Somália falta de segurança no aeroporto de Mogadíscio tem limitado o número das companhias que se oferecem voluntariamente para o transporte das ajudas a capital somali, mas que noutros países, a comunidade internacional pode tomar medidas para mudar a situação:

"A comunidade internacional, na sua totalidade, pode coordenar esforços no sentido definir os critérios das companhias que possam ser contratadas pelas Nações Unidas, tal como fazemos no que se refere a restaurantes ou outras áreas de serviço nas zonas de conflito, companhias essas que não tenham jamais violado, no passado, os embargos das Nações Unidas, torna-se necessário criar um mercado com as referidas companhias."

Os autores do estudo recomendam a instituição de uma nova ética de requisitos para as transportadoras envolvidas com os governos ocidentais, agências das Nações Unidas e ONGs. Afirmam ainda que os requisitos actuais de segurança na Europa e nos Estados Unidos poderiam ser exigidos também das companhias acusadas de transporte de armas, apesar de muitas delas não terem demonstrado bom desempenho das suas funções até aqui.

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