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Morreu Domingos Arouca


Morreu na madrugada de 03 de Janeiro sua residência, em Maputo, o advogado moçambicano Domingos Mascarenhas Arouca.
Arouca fora operado em Dezembro a um cancro de que padecia há alguns anos, disse o Canal de Moçambique.

O primeiro advogado negro moçambicano foi também o preso político moçambicano que mais tempo passou nas cadeias portuguesas do regime colonial. Após cumprir o cárcere na Machava foi deportado para Portugal onde passou oito anos na cadeia, designadamente em Caxias.
Nasceu em Salela, no Município de Inhambane a caminho do Tofo.
Foi enfermeiro em Mambone onde ganhou a vida até que lhe saiu a lotaria e rumou para Lisboa a fim de estudar tendo concluído na capital portuguesa a licenciatura em Direito.
Foi militante da Frente de Libertação de Moçambique em Lourenço Marques (Maputo) tendo coordenado na clandestinidade as suas actividades. Foi sempre uma figura polémica. Por discordar com o marxismo-leninismo, política adoptada após a Independência opôs-se à FRELIMO e recusou-se a aceitar um convite de Samora Machel para ocupar uma pasta no primeiro governo da República Popular Moçambique. Emigrou para Lisboa onde passou a exercer advocacia.
Quando vivia em Lisboa, no Restelo, sofreu um atentado. Uma bomba foi colocada na sua viatura à porta da sua residência, tendo a mesma ficado completamente inutilizada. Atribuiu o atentado a agentes do SNASP, serviços de segurança na altura chefiados por Jacinto Veloso.
Arouca só viria a regressar ao seu país depois do Partido Frelimo ter aceite uma nova Constituição que consagrasse Direitos Humanos fundamentais e um regime democrático multipartidário. Foi, aliás, convidado por Joaquim Chissano, que ascendera à chefia do Estado após a morte de Samora Machel, a dar a sua contribuição para a nova Constituição, instrumento que permitiu que o acordo de Paz com a Renamo fosse alcançado pondo-se assim fim a cerca de 16 anos de guerra civil.
Ainda em Lisboa fundou o partido FUMO e já em Moçambique chegou a candidatar-se à Presidência da República nas primeiras eleições gerais, em 1994. Incompatibilizou-se com os seus correligionários do FUMO e abandonou a política partidária.
Segundo a família, o Dr. Domingos Arouca deverá ser sepultado no cemitério de Inhambane.
Arouca exerceu advocacia até poucos dias antes de falecer. Era membro fundador da ordem dos Advogados de Moçambique e do Conselho Superior da Magistratura Judicial. Neste órgão exerceu vários mandatos tendo chegado a ser eleito por proposta consensual da Frelimo, no poder, e da Renamo, o maior partido da oposição.
Domingos Mascarenhas Arouca celebrou em 2008 o seu 80.º aniversário natalício. Deixa viúva e quatro filhos, dois adoptivos e dois do matrimónio com a Dra. Regina Arouca, docente universitária.

O Filipe Vieira falou com Rui Baltazar do Conselho Constitucional de Moçambique sobre a figura de Domingos Arouca

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