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Vitória do MPLA Foi Preparada a Rigor


Apostado em conseguir resultados mais abrangentes possíveis, a determinado ponto da sua pré-campanha MPLA encaixou num mesmo «pacote» figuras como Fátima Roque, Barceló de Carvalho «Bonga» e os chamados comités de especialidade, grupos constituídos a partir de 2003, e que reúnem, sobretudo, especialistas de profissões liberais.

De uma ou de outra forma, tanto os primeiros quanto os segundos traduziram-se em ganhos para o partido no poder. Em 1992 Bonga alimentou a campanha da UNITA com músicas como «Calças Novas em Setembro».

Este ano actuou num espectáculo promovido pelo MPLA, e pela primeira vez foi recebido pelo Presidente José Eduardo dos Santos. Sam Mangwana, que fez o mesmo percurso em 1992, desta vez também alinhou pelos «camaradas».

Fátima Roque, por sua vez, foi estrela no comício de fim de campanha do MPLA, em Cacuaco, onde não só disse que votaria no partido do coração, um «slogan» do MPLA, como se apresentou de chapéu e cachecol da «grande família».

Informações a que a Voz da América teve acesso indicam que tanto os convites a Fátima Roque e a Bonga, como a mobilização dos Comités de Especialidade enquadrava-se no espírito da Directiva Número 3, gizada pouco antes da III conferência nacional do MPLA realizada em Luanda, em Maio passado.

Este instrutivo projectava o MPLA como partido de massas, de quadros, e também como partido eleitoral.

Em relação à primeira perspectiva, o MPLA deveria enraizar-se nas comunidades, estabelecendo um vai-e-vem com os 4 milhões de membros que reclama ter, aproveitando, aí, a cadeia que se estabeleceu quando transferiu para zonas residenciais as células que tinha nos locais de trabalho.

Na sua relação com os quadros, sobretudo licenciados, o MPLA socorreu-se dos comités de especialidade, a determinado ponto tratados pela oposição, particularmente pela UNITA, como sendo símbolos da exclusão, e instrumentos de pressão sobre intelectuais que pensam de maneira diferente.

Para fontes do MPLA trata-se de instituições que recriaram o voluntarismo de 1974. «O que vemos na oposição, particularmente na UNITA, é acima de tudo incapacidade de gerar à sua volta opinião qualificada, e arregimentar quadros capazes de assistirem as suas lideranças na concepção e execução de políticas».

Analistas políticos admitem que os comités de especialidade roubaram à FpD espaços que poderiam ajudá-la a gerar alguns activos, pois trata-se, para todos os efeitos, de um partido «talhado para a conquista do voto instruído».

Descontados os militantes com assento na direcção do MPLA, os 14 comités de especialidade fizeram eleger para o Parlamento mais de 50 personalidades. Destes, apenas um é presidente de um comité. Trata-se do economista Diógenes de Oliveira.

Membros destas instituições disseram à Voz da América que esperavam meter mais gente no Parlamento, o que não foi o caso. «O número de deputados que o partido elegeu, 191, deveria traduzir-se numa representatividade maior. Mas como nem entre os suplentes ficamos, não há nada a fazer».

Membros da cúpula do MPLA disseram à Voz da América que em circunstâncias como estas haverá sempre alguém que tenha que ficar de fora, o que não significa que sejam quadros menos capazes do que outros. «Em todo o caso estas pessoas que digam quem é que deveria ficar de fora!» As mesmas fontes argumentam também «que se está a confundir comités de especialidades, com os presidentes destas instituições. Se formos à lista de deputados veremos que há muita gente filiada nos CE.

Trata-se, convenhamos, de uma entre as várias organizações consultivas criadas pelo partido. Que diríamos também dos mais de 30 mil comités de acção que constituímos em todo o país? Temos que ser razoáveis».

A terceira variante deste segmento da aposta do MPLA, ou seja a estratégia eleitoral, tinha em vista, entre outros, a aproximação a figuras de uma ou de outra maneira identificadas no presente ou passado com a oposição. «Foi aí que entraram Fátima Roque, Bonga , António Bento Bembe , Nzau Puna e Jorge Valentim».

Jorge Valentim fez campanha pelo MPLA no Lobito e por isso é-lhe creditada parte do capital que o partido conseguiu naquela cidade.

Bento Bembe e Nzau Puna, ambos naturais de Cabinda, foram a resposta do MPLA ao lançamento, pela UNITA, de Raul Danda, também ele nascido no enclave. Puna e Danda militaram na UNITA e na extinta Tendência de Reflexão Democrática, TRD, uma dissidência do «galo negro» onde sobressaiam alguns «cabindas». Um e outro acabaram por ser eleitos para o Parlamento.

A directiva número 3 também veio a ser tomada como referência pelo MPLA na gestão interna da sua campanha. Fonte do partido no poder disse à Voz da América que foi preciso adequar a campanha às recomendações da directiva. «A relação entre custos e benefícios era desproporcional. A promoção de grandes actos folclóricos em detrimento do uso de instrutivos e de outros mecanismos de aproximação às massas era contraproducente. «Tivemos que fazer uma correcção de tiro, nada mais».

De resto e para prevenir sobressaltos na tesouraria, o MPLA convidou no dia 23 de Maio, a sexta-feira imediatamente a seguir à sua III conferência nacional, vários empresários a quem solicitou doações.

Fontes deste partido disseram à VOA que os mais de 70 empresários que responderam à chamada fizeram contribuições que se aproximaram de 30 milhões de dólares, valores questionados pela oposição que insinua que parte destes fundos tenham sido desviados dos cofres do estado.

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