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Situação Actual da Resistência Antimicrobiana


RENATO - Jerome Gropman escreveu artigo para a revista New Yorker no qual analisa a situação actual da resistência antimicrobiana.

ANA - Constam do artigo entrevistas com diversos especialistas. E na maioria dos casos, o uso desnecessário e abusivo de antibióticos é apontado como um dos factores essenciais para o inquietante aumento da resistência das bactérias.

RENATO - Os antibióticos são uma arma de grande utilidade para o tratamento das doenças infecciosas. Mas eles são frequentemente receitados em excesso, ou para casos onde não são indicados, como, por exemplo, naqueles onde os agentes causadores são vírus, e não, bactérias.

ANA - O artigo do New Yorker enfatiza outro aspecto da questão, Renato, ao advertir que o uso de antibióticos na agricultura industrializada tem aumentado enormemente. Com efeito, setenta por cento dos antibióticos receitados nos Estados Unidos vão para o sector agrícola.

RENATO - Michael Pollan, da Universidade de Berkeley, na Califórnia, escreveu um livro, Ana, no qual denuncia essa pratica. "Os medicamentos", escreveu ele, "não são usados para curar animais doentes, e sim para prevenir que fiquem doentes, já que os animais são guardados em ambientes exíguos e insalubres".

ANA - Em sua entrevista ao New Yorker, Pollan afirmou que dessa forma criamos um ambiente perfeito para gerar supermicróbios que são resistentes aos antibióticos.

RENATO - E acrescentou que o público, no desejo de dispor de alimentos abundantes e baratos nos super mercados, aceita métodos de agricultura industrializada que tendem a facilitar o surgimento de doenças que escapam ao controlo.

ANA - Vale a pena explicar, Renato, que a agricultura industrializada (factory farming em inglês) é a criação de animais em larga escala, como se fosse numa fábrica, em vez de ser ao ar livre, em ambientes naturais.

RENATO - O assunto tem dado lugar a discussões acaloradas. Pode parecer que as vantagens estão a ficar mais do lado dos que denunciam o uso de métodos da indústria na criação de animais. ANA - É isso mesmo. Cerca de 350 grupos nos Estados Unidos apoiam um projecto de lei que limita o uso de antibióticos na produção de alimentos.

RENATO - É, Ana, mas os debates não cessaram. As declarações de Pollan, que citamos há pouco geraram criticas. Muitos discordaram dos seus argumentos, e alegaram que ele foi motivado por simpatias ideológicas.

ANA - Trata-se de uma alusão ao facto de que a Universidade de Berkeley, na Califórnia, à qual ele pertence, é tida como uma entidade de tendências esquerdistas.

RENATO - Por sua vez, Michael Crichton, um romancista de sucesso e médico formado por Harvard, defende a pratica da agricultura industrializada. Afirma que os que se opõem a ela são influenciados por considerações políticas, e não cientificas.

ANA - A política, segundo ele, tem corrompido a integridade da pesquisa cientifica.

RENATO - A questão é complexa, Ana. Vamos continuar apenas a expor regularmente os argumentos dos especialistas envolvidos nos debates.

ANA - Outra noticia, Renato. Pessoas que sofrem de diabetes e são obesas tem mais probabilidade de sofrer um ataque de coração.

RENATO - Foi o que revelou um estudo do Instituto Nacional de Coração, Pulmões e Sangue, dos Estados Unidos, recentemente publicado na revista Diabetes Care.

ANA - A diabetes, por si só, já predispõe à ocorrência de um problema cardíaco. Mas se a pessoa é obesa, os riscos aumentam.

RENATO - Está previsto que o número de americanos com diabetes deverá subir para 48 milhões até o ano de 2.050.

ANA - As informações deste estudo não nos surpreende porque afinal todos os dias lemos advertências sobre os males do excesso de peso.

RENATO - Exacto, Ana. O que constitui de certo modo uma novidade é um outro estudo de cientistas alemães, da Universidade de Tubingen que diz que nem sempre excesso de peso significa problema de saúde.

ANA - As conclusões deste estudo alemão são parecidas com um estudo feito recentemente aqui nos Estados Unidos por especialistas ligados ao prestigioso Hospital Albert Einstein.

RENATO - Em síntese, o que esse dois estudos revelam é que existe um subgrupo de obesos – digamos, 24 por cento - que é normal do ponto de vista metabólico.

ANA - O Doutor Roger Bate, do American Enterprise Institute, aqui em Washington, é há muitos anos um estudioso do problema da malária, ou paludismo. Você conversou recentemente com ele, não é, Renato?

RENATO - Sim, Ana, eu lhe pedi que resumisse alguns pontos de um estudo que publicou ha algumas semanas. Como, por exemplo, qual a gravidade do problema da malária em África.

ANA - Eis o que Doutor Bate respondeu:

"A malária é uma doença grave em todo o continente africano, e o número de vitimas - incluindo jovens mães, mulheres grávidas e crianças - é maior do que o de qualquer outra doença, num total de 1 ou 2 milhões anualmente. Em Angola e Moçambique trata-se de um problema considerável, com características de endemia. Este é o caso na maior parte da África sub saariana, com excepção da África do Sul. Em escala mundial, a África arca com o maior peso do impacto da malária. Existem bolas da doença em partes da América Latina e numerosos casos no Sudeste da Ásia. Mas dentre os 350 a 500 milhões de pessoas que contraem a malária em todo o mundo, 80 por cento estão em África".

ANA - O outro ponto abordado no estudo do Doutor Bate foi o padrão inferior de tratamento da malária em África.

"Certo. Existem diferentes categorias de medicamentos antimalária no mercado. Alguns são de excelente qualidade e são utilizados nos Estados Unidos e na maioria dos países da Europa. Há também as drogas falsificadas, que não contem ingredientes activos e que, portanto, não têm nenhuma eficácia. Em muitos casos os fabricantes se esforçam para produzir bons resultados, mas existe uma grande volatilidade, alguns produtos são bons, outros, não. Nem sempre se sabe porque um medicamento deixa de funcionar. Em África tem de ser levada em conta a questão da manutenção e conservação dos produtos. Por exemplo, um problema é a falta de refrigeração que dificulta controlar a temperatura e a humidade do ambiente em que são guardados os remédios. Em termos aproximados, pode-se dizer que 1 terço dos remédios antimalária utilizados em África não satisfazem os testes de qualidade Eles são de um padrão inferior".

ANA - Palavras do nosso entrevistado, Dr. Roger Bate, do American Enterprise Institute, de Washington.

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