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A Crise Económica e Financeira no Zimbabwe


No Zimbabwe, a inflação é a mais elevada do mundo, com os preços aumentando mais de dois milhões por cento, nos últimos 12 meses. Peritos em finanças e conhecedores do mercado zimbabweano afirmam que a hiper-inflação poderia ser travada, caso o banco central do Zimbabwe parasse de imprimir dinheiro.

O antigo vice-presidente do Banco Mundial, Callisto Madavo, responsabiliza o banco central do Zimbabwe e a interferência política nos assuntos monetários do país pelo desastre financeiro a que se assiste. Madavo, um zimbabweano que ensina desenvolvimento africano na Universidade de George Washington, na capital americana, aponta para o que diz serem os dois maiores erros cometidos pelo banco central do Zimbabwe: “O banco central do Zimbabwe, através de um número de actividades, não apenas tem estado a imprimir dinheiro, mas, tem desempenhado também um papel de quase um ministério das Finanças. O que é uma receita para um desastre para qualquer economia. E isso tem que acabar.”

Frank Young, um diplomata americano na reforma que regressou recentemente de uma visita ao Zimbabwe, afirma que as pessoas, na capital, desenvolveram o seu próprio sistema para fazer face a uma economia desesperada: “De dia para dia, eles pensam em termos de quanto uma carcassa de pão irá valer, quanto é que vai custar um litro de gasolina, quanto é que vai ser preciso para comprar uma bateria para um automóvel. E, a partir daí, estabelecem redes através das quais podem transaccionar estes bens valiosos, usando-os para permuta.”

Young afirma que, uma vez que os preços mudam todos os dias e até mesmo de hora a hora, os consumidores pensam apenas em termos do que um produto vale em dólares americanos ou em randes sul-africanos.

Madavo afirma que, para pôr fim à inflação no Zimbabwe, o presidente do banco central, Gideon Gono, tem que ser substituído. E, mais importante, disse ele, o país necessita de concluir com sucesso as negociações sobre a partilha do poder, agora em curso em Pretória e em Harare. Quando for restaurada parcialmente a confiança do público, afirma Madavo, os políticos devem concentrar a sua atenção em estabilizar a economia.

A antiga funcionária do banco central americano, Willene Johnson, concorda com Madavo quando este afirma que, quando o banco central deixar de imprimir dinheiro, a hiper-inflação poderá ser travada rapidamente e que os políticos têm necessidade de pôr em prática um plano para a estabilização económica. Diz ela: “É um plano para a governação económica que envolve, não apenas as finanças, mas a adesão a um conjunto de regras. Envolve uma instituição legal, um conjunto de estruturas governativas para o banco central e para as instituições financeiras.”

O Instituto Americano para a Paz, que tem a sua sede em Washington, organizou, esta terça-feira, uma conferência sobre a economia no Zimbabwe. Entre os oradores contava-se Johnson, Madavo e Young, todos sublinhando a necessidade da reconciliação no Zimbabwe e para que se ponha termo à crise política gerada pela liderança de Robert Mugabe, que se arrasta há 28 anos, que foi derrotado nas eleições de Março deste ano, mas que se recusa a abandonar o poder.

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