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Isolar o Irão


Em 2007, a longa inimizade entre os Estados Unidos e o Irão atingiu o ponto de fervura quando Washington aumentou as suas acusações sobre as ambições armamentistas nucleares de Teerão e o seu apoio a rebeldes no Iraque. Mas um surpreendente relatório dos serviços secretos americanos sobre o programa nuclear do Irão alterou algumas dinâmicas políticas em ambas as capitais.

Durante 2007, a administração Bush pressionou fortemente a comunidade internacional para isolar o Irão por aquilo que disse serem as tentativas do Irão de se tornar num país possuidor de armas nucleares. Funcionários americanos acusaram também o Irão de armar e treinar rebeldes no Iraque.

Numa conferencia de imprensa em Outubro, o presidente Bush levantou mesmo o espectro de um conflito mundial se o Irão adquirisse a capacidade de construir armas nucleares.

“O Irão tem um líder que anunciou que quer destruir Israel. Por isso digo que se quisermos evitar uma Terceira Guerra Mundial, temos de impedir o Irão de adquirir a tecnologia necessária para fabricar uma arma nuclear”.

O Irão negou ter qualquer ambição em ser uma potência nuclear, afirmando que procura energia atómica apenas para fins pacíficos.

A retórica tornou-se tão dura que fez desencadear a especulação de que os Estados Unidos estavam a preparar uma acção militar contra o Irão.

Na verdade, rebentou uma bomba, mas não de natureza militar. No principio de Dezembro, os serviços secretos americanos divulgaram uma nova Estimativa Nacional de Inteligência que dizia que o Irão tinha provavelmente suspenso o seu programa de armas nucleares em 2003 e que até meados de 2007 não o tinha recomeçado.

Os Estados Unidos insistem que o Irão suspenda o seu programa de enriquecimento de urânio, que é necessário para produzir uma bomba nuclear, como pré - condição para negociações directas entre Washington e Teerão.

Ken Kazman, analista do Irão, no não - partidário Serviço de Pesquisas do Congresso, disse que a administração Bush receia que o novo relatório esvazie a pressão sobre o Irão para um compromisso.

“O efeito liquido disso, sob o ponto de vista da Casa Branca, é de que o Irão vai efectivamente conseguir um livre transito, já que a pressão não será agora tão forte e Teerão vai continuar quase à vontade o seu programa de enriquecimento de urânio”.

O novo relatório dos Estados Unidos foi saudado em Teerão pelo fogoso presidente Mahmoud Ahmad Dinejad, que o classificou como uma “vitoria” para o seu país.

Patrick Clawson, um especialista em assuntos iranianos no Instituto para a Política do Médio Oriente, em Washington, afirmou que a posição do presidente Ahmad Dinejad está agora fortalecida com o resultado do relatório.

“Tem havido um rigoroso debate sobre o Irão nos últimos meses sobre a posição agressiva e peremptória do presidente Ahmad Dinejad, com muitos dos seus críticos internos afirmando que isso coloca o pais em perigo e recomendando que o Irão em vez disso alcance um compromisso. O ultimo relatório reduziu enormemente as criticas a Ahmad Dinejad e fez com que as suas posições políticas parecessem inteligentes. Este relatório constituiu um sério revés nos esforços para conseguir um compromisso do Irão.”

Mas outros analistas notam que o presidente Ahmad Dinejad atacou vigorosamente os esforços dos Estados Unidos para controlar o programa nuclear do Irão, como uma forma para obter apoio político interno. Ken Katzman disse que sem essa manobra de diversão, as atenções poderiam virar-se para a fraca prestação económica do governo iraniano. Afirmou que as atenções dos iranianos poderiam talvez se virar, com inveja e desconcertação, para as crescentes economias de países vizinhos como o Dubai.

“Penso que o publico iraniano sente que com os preços do petróleo a este nível, 90 dólares o barril, deveria estar agora a nadar em dinheiro. E não está. E penso que isso está a causar uma tremenda frustração, particularmente nas cidades”.

Analistas são de opinião de que isso poderá causar problemas entre os apoiantes de Ahmad Dinejad com eleições parlamentares previstas para Março próximo e as presidenciais em 2009. No dia 11 de Dezembro, o antigo presidente Mohammad Khatemi fez um raro ataque publico as políticas económicas do presidente Ahmad Dinejad, durante uma palestra na Universidade de Teerão.

O governo de Ahmad Dinejad subiu o preço da gasolina subsidiada e introduziu o racionamento de combustível, a inflação atingiu este ano os 19 por cento. Analistas afirmam que esses problemas económicos poderão aumentar se tiverem sucesso os esforços dos Estados Unidos para serem impostas sanções internacionais mais rigorosas contra o Irão.

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