Links de Acesso

Dell : SADC Enviou Um Sinal A Mugabe


A posição de optimismo que Robert Mugabe evidenciou após a recente cimeira da SADC realizada recentemente em Dar Es Salam, alegando que tinha recebido apoio da organização, não condiz com aquilo que se discutiu à porta fechada, sugeriu William Dell, embaixador norte-americano em Harare.

Entrevistado pelo serviço em português para a África da Voz da América, William Dell diz que a SADC enviou um sinal muito forte ao presidente Robert Mugabe.

“Segundo o que apuramos, os resultados da cimeira de Dar es Salam não foram exactamente aquilo que o Presidente Mugabe disse. Os outros presidentes queixaram-se do comportamento do presidente do Zimbabwe. O que ele tentou foi dar ao publico uma explicação diferente sobre o que de facto aconteceu. O importante a reter desta cimeira é o facto de ter sido a primeira vez que os líderes regionais interviram nas questões zimbabwanas. Até aí Mugabe conseguia adiar discussões sobre a situação no Zimbabwe. Em segundo lugar, e apesar do velho argumento de que tudo se resume a um problema com a Grã-Bretanha, ele aceitou que a mediação do presidente Mbeki abordasse questões internas do Zimbabwe. Isto é muito importante”.

VOA - Senhor Embaixador - Há pouco mais de 20 anos, o Zimbabwe era um país com uma economia em crescimento. Hoje está num caos, com a inflação a atingir o céu. Aos olhos do presidente do Zimbabwe, a responsabilidade é do ocidente. Qual é a posição dos Estados Unidos em relação a isto?

WD - Isto são desculpas de um governo perante os efeitos de políticas desastrosas que seguiu até aqui. Há 27 anos que o Zimbabwe é um país independente, e até 2000 era um país em pleno crescimento. Eu diria que até ai a situação política era razoável. As coisas mudaram depois do presidente Mugabe ter perdido o referendo constitucional no ano 2000, e depois resolveu lançando políticas radicais. Os resultados desta política são muito óbvios. A economia está em queda, e o povo vive na miséria.

VOA - O senhor por certo ouviu sugestões do presidente Mugabe de que estaria a considerar a hipótese de expulsar alguns diplomatas ocidentais por estarem a intervir em assuntos interferir em assuntos internos, incitando a oposição. O que lhe ocorre dizer a este respeito?

WD - É evidente que o governo tem direito de expulsar quem quiser, e quando quiser. Do nosso ponto de vista isto seria um grande erro, pois aumentaria o isolamento internacional a que o Zimbabwe está votado. Por outro lado eles têm uma definição de ingerência que é muito particular. Aquilo que não gostam é tomado como interferência. Coisas normais em Angola, EUA ou em qualquer país europeu. Se os diplomatas assistem a uma conferencia de imprensa da oposição, eles consideram isso uma acto de interferência. Estou em crer que isto não vai acontecer, e que vamos continuar a fazer o nosso trabalho aqui em Harare.

VOA - Robert Mugabe é de novo candidato da ZANU às eleições presidenciais de 2008. É isto um bom sinal?

WD - Eu penso que eleições são a melhor solução para a crise política no Zimbabwe. Já que o presidente Mugabe deu um sinal sobre as suas intenções de se candidatar, penso que o esforço da oposição e dos países vizinhos deve centrar-se na criação de condições para que as eleições sejam livres e justas.

VOA - Será que a oposição no Zimbabwe consegue mobilizar a população para dar a volta ao que se passa no seu país?

WD - A situação económica é tão difícil, o povo está a sofrer tanto que me dá a impressão que uma oposição hábil terá uma grande oportunidade de conseguir uma vitória eleitoral. Com o novo empenho da SADC após a cimeira de Dar Es Salam, e com o empenho do presidente Mbeky da África do Sul, estou em crer que estamos no bom caminho para criarmos estas condições. Estou com grande esperança que em Março de 2008 a vontade do povo zimbabwano finalmente vai ser ouvida. Angola, Moçambique e os outros países vizinhos poderão ter um papel um importante para que se assegure que o Zimbabwe respeite as normas e regras adoptadas pela SADC em 2001.

VOA - Senhor embaixador, recentemente a oposição fez um apelo para que ninguém fosse à rua...a adesão não foi aquilo que a oposição esperava. Isto não é um bom sinal...

WD - Acho que não é claro que não se tenham saído bem. Numa situação em que já há muito desemprego é difícil dizer quem foi, e quem não foi trabalhar. Não ficou muito claro Luís se foram ou não foram bem sucedidos.

VOA - Hoje há consenso em como o Zimbabwe vive em crise...Isto também afecta os diplomatas?

WD - Eu diria que não. Quem tiver acesso aos dólares americanos não sente tanto a crise. Quem sofre é o povo, que depende da moeda nacional. As embaixadas continuam a funcionar, mas uma coisa é certa: a crise económica é como um vírus que entrou no corpo da SADC, e se não for tratado, o corpo vai ficar cada vez mais doente. A inflação já está em cerca de 6 mil por cento por ano, e vai afectar negativamente toda a região.

XS
SM
MD
LG