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África e a Tentação Nuclear


Peritos em energia nuclear manifestaram preocupação pelo facto de haver países, que estão a tentar fabricar armas nucleares, que podem querer explorar os recursos de África para seu benefício. Dizem esses peritos que as nações africanas não têm as salvaguardas necessárias para evitar tal exploração, à medida que o continente africano começa a pôr os olhos na tecnologia nuclear para suprir as suas próprias necessidades.

Em 2005, os serviços alfandegários da Tanzânia interceptaram uma enorme quantidade de urânio 238, minério usado na fabricação de armas nucleares. O carregamento apreendido destinava-se a um porto no Irão.

Uma investigação posterior dos serviços alfandegários daquele país africano acabou por revelar que o urânio em causa tinha tido por proveniência o porto de Lumumbashi, na República Democrática do Congo, uma região rica naquele minério e de onde terá sido extraído o urânio utilizado na concepção da bomba atómica lançada pelos Estados Unidos contra a cidade de Nagasaki e Hiroshima, na fase final da Segunda Guerra Mundial.

Alguns especialistas desconfiam também da possibilidade da Coreia do Norte ter tido, durante a guerra civil naquele país, o acesso a carregamentos de urânio, provenientes da República Democrática do Congo, em troca de assistência militar às forças congolesas .

Meir Javendafar, analista israelita e autor da obra “O poder nuclear de Teerão”, entende que as nações com ambições nucleares, têm pretensões em África, devido à facilidade com que o urânio é explorado: “Os países africanos são fáceis de negociar, porque não dependem dos Estados Unidos. Muitos deles estão em dificuldades económicas. O governo iraniano pode usar o seu poder financeiro para os convencer. Todos esse factores colocam a África na rota das ambições nucleares do Irão”.

Existem, por sinal, uma série de convenções internacionais e resoluções das Nações Unidas tendentes a prevenir o tráfico ilegal de materiais e tecnologias nucleares.

Mas, para Carina Tertsakian, analista da organização não governamental britânica, Global Witness, esses mecanismos legais têm se manifestado ineficientes em África: “Independentemente de serem implementados ou não, os resultados mostram que esses documentos não são respeitados, já que as pessoas envolvidas na exportação desses minérios podem, por vezes, subornar os funcionários com largas quantidades de dinheiro em toca de favores, nomeadamente facilidades de traficar o minério para além fronteiras, sem que o carregamento seja controlado ou submetido ao pagamento de taxas ou impostos”.

No inicio do mês, funcionários africanos reunidos na Argélia assumiram o compromisso de reforçar as medidas de segurança, paralelamente à reivindicação do direito de desenvolvimento de tecnologia nuclear para fins pacíficos.

Anita Nillson, directora dos escritórios da segurança nuclear, da Agência Internacional para a Energia Atómica, com sede em Viena de Áustria, reconhece que à medida que os países africanos se forem interessando pela resolução dos seus problemas energéticos, através do recurso a tecnologia nuclear, um controlo mais cerrado da circulação da matéria prima nuclear, para evitar que caia em mãos indevidas, torna-se consequentemente, bem mais critico: “Apesar de serem importantes ao desenvolvimento, esse materiais contêm, por outro lado, factores de risco, caso sejam usados com maus propósitos, com propósitos maliciosos, podem causar problemas, efeitos negativos na saúde e problemas de contaminacao etc...”

Esta funcionaria da Agência Internacional para a Energia Atómica diz, por outro lado, que apesar de existirem mecanismos para evitar o tráfico ilegal desses materiais, alguns países necessitam de apoios, nomeadamente no treino dos seus guardas fronteiriços, em termos de legislação na matéria e, sobretudo, vontade política.

De realçar que ao todo oito os países africanos, com reactores nucleares, com a África do Sul a constar como a última nação a entrar para a lista.

Na Namíbia, país tido como o fornecedor de um décimo do urânio consumido a nível mundial, as autoridades nacionais procuram actualmente apoios internacionais para um projecto nuclear, visando fins meramente energéticos .

Por outro lado, o director da Agência Internacional para a Energia Atómica, Mohamed el Baradei, revelou recentemente que a Argélia, o Egipto e a Nigéria são também países que já manifestaram interesse em desenvolver projectos nucleares para fins energéticos e da dessalinizacao da água do mar.

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