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Senado dos EUA Debate Imigração


O Secretário do Tesouro americano, Carlos Gutierrez esteve, ontem, perante um painel do Comité Judicial do Senado, para debater o impacto da contribuição dos imigrantes na economia dos Estados Unidos.

Diga-se que não poderia haver melhor porta voz dos anseios da imigração nos Estados Unidos do que o próprio Carlos Gutierrez.

Com 53 anos de idade, Gutierrez nasceu em Havana, Cuba, e refugiou-se com os familiares nos Estados Unidos, quando tinha apenas seis anos de idade. Aprendeu inglês e tornou-se cidadão dos Estados Unidos. Mais tarde, formou-se em gestão de empresas, tendo iniciado a sua carreira de gestor, nas fabricas da companhia ´´Kellogg’s´´, dos conhecidos cereais, onde foi subindo na hierarquia até se tornar presidente do conselho de administração, antes de ser nomeado pelo presidente George Bush, para o cargo de Secretario do Tesouro.

Questionado pelo painel daquele comité do Senado, mais concretamente pelo seu presidente, o senador republicano pelo Estado da Pensilvânia, Arlen Specter, Carlos Gutierrez enalteceu o papel dos imigrantes no crescimento da economia dos Estados Unidos.

Disse Gutierrez : ´´Os níveis de desemprego entre os imigrantes indocumentados é actualmente inferir à média nacional, o que sugere que os imigrantes imigram por uma razão, por um objectivo: o trabalho. E, de acordo com as estimativas, entre cinco a seis por cento dos nossos postos de trabalho, são ocupados por trabalhadores indocumentados.

Mas, o senador Specter questionou : ´´E a presença deles aqui, a sua contribuição para a economia do país é benéfica para a todos nós neste país?´´

Gutierrez respondeu: ´´Absolutamente ,os proprietários das empresas, dos negócios tiveram sucesso com esta mão de obra, que se tornaram também em consumidores, que despendem dinheiro na nossa economia, que investem em negócios. Os imigrantes tornaram-se consumidores. E têm tido um impacto múltiplo na nossa economia, que todas as estimativas sugerem ser positivo´´.

Mas alguns senadores mais conservadores, em particular da bancada republicana, acreditam que os imigrantes ilegais podem constituir um pesado fardo para a economia e para o sector dos serviços sociais locais dos Estados Unidos.

Foi, precisamente, o caso do senador republicano pelo Estado do Texas,John Cornyn.

Cornym é de opinião de que os americanos têm vindo a enfrentar cada vez mais dificuldades no acesso aos serviços médicos de emergência devido ao facto dos trabalhadores indocumentados, sem seguro de saúde que cubra as suas despesas médicas, estarem a preencher por completo as vagas nos serviços de atendimento de urgência.

Disse Cornyn que ´´vinte e cinco por cento dos meus constituintes no Texas não têm seguro de saúde e são na sua maioria imigrantes ilegais, que recorrem aos serviços de emergência médica.´´ Na sua opinião é por isso que os serviços de emergência se transformam num recurso, com as verdadeiras situações urgentes a ter que ser canalizadas para outros sectores, onde possam ser resolvidos.

Já o senador democrata pelo Estado de Massachussets, Ted Kennedy, prefere citar as estatísticas do Conselho Nacional de Pesquisas que sugerem que os imigrantes em geral contribuem, através do pagamento de impostos, para os fundos que sustentam esses mesmos serviços sociais e médicos:

´´Regra geral, um imigrante e a sua família, contribuem com 80 mil dólares ou mais em impostos, durante toda a sua vida laboral, que consomem em serviços´´.

Já para o senador Jeff Sessions, um republicano pelo Estado do Alabama, a maior parte dos imigrantes ilegais não preenche os requisitos de uma mão de obra especializada pelo que, segundo ele, algo deve ser feito, para que o país permita a entrada apenas dos imigrantes, qualificados.

Foi esta a reacção do Secretario do Tesouro, Carlos Gutierrez: ´´Precisamos de trabalhadores altamente qualificados. Dão uma grande contributo. O nosso mercado necessita também de trabalhadores menos qualificados . A maior parte das gerações de imigrantes que vieram para estes país, são trabalhadores de baixa qualificação. Mas, pelo facto de entrarem no país, com um só propósito, ou seja o trabalho, de virem atrás de um sonho, acabaram por trabalhar de forma árdua. E o resultado esta aí: os seus filhos e descendentes já não são hoje trabalhadores de baixa qualificação´´.

Para os defensores da imigração, os trabalhadores ilegais têm estado a fazer nos Estados Unidos precisamente o tipo de tarefas e de trabalhos que os americanos não estão dispostos a fazer, nomeadamente o trabalho manual, na construção civil e na agricultura.

A presença do Secretario do Tesouro, Carlos Gutierrez, no edifício do Capitólio, acontece precisamente numa altura em que o Senado e a Câmara dos Representantes se preparam para conciliar as duas versões, à partida antagónicas de projectos de lei sobre a imigração, aprovados em ocasiões distintas pelas duas câmaras.

A tentativa de se encontrar uma plataforma comum entre as duas legislações, acaba por reflectir um estado de tensão em redor de um assunto, a imigração, que tem mantido dividida profundamente a opinião publica nos Estados Unidos.

Uma situação que Ben Johnson, director da organização não governamental, Centro de Políticas de Imigração, com sede aqui em Washington, comenta:

´´O verdadeiro desafio que fazemos face hoje deriva do facto de enviarmos duas mensagens ao mesmo, a nossa fronteira: ou seja que precisamos de ajuda, mas mantenham-se afastados. O resultado desta esquizofrenia coloca as agências encarregues de implementarem as leis, os negócios e as famílias, entre a espada e a parede. Criamos uma insustentável contradição entre a política económica e a política de imigração dos Estados Unidos. A perspectiva económica dessa política tem estado a liderar. Não podemos continuar, nem a despender bilhões de dólares na batalha pela contenção da imigração ilegal, com a nossa economia e a nossa força de trabalho, para criar um sistema de imigração que não seja apenas funcional em manter as pessoas fora do nosso pais, mas também eficaz em permiti-lhes o acesso ao país, quando forem necessários:´´O pacote legislativo aprovado pelo Senado, prevê a criação da figura de trabalhador convidado, dispositivo que permitiria, de acordo com as estimativas, entre 11 a 12 milhões de imigrantes ilegais acederem futuramente à cidadania americana, desde que reunidas determinadas condições. A lei em questão sugere,por outro lado, o reforço das medidas de segurança fronteiriça.

Por seu lado, o pacote legislativo aprovado pela Câmara dos Representantes coloca ênfase no reforço da segurança fronteiriça e não prevê o estatuto de trabalhador convidado, para além de considerar a imigração ilegal como crime passível de penalizações, incluindo a deportação.

A administração do presidente George Bush tem-se manifestado partidária da versão da lei aprovada pelo Senado e o Secretario do Tesouro, Carlos Gutierrez, advertiu que uma eventual entrada em vigor da versão da reforma da lei de imigração, aprovada pela Câmara dos Representantes, só contribuiria para forçar os imigrantes ilegais a sobreviverem ilegalmente no país.

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