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As relações entre as Nações Unidas ...


As relações entre as Nações Unidas e o seu país anfitrião poderão ter atingido o seu ponto mais baixo há dois anos e meio, quando os Estados Unidos lideraram uma coligação para o Iraque sem a autorização do Conselho de Segurança.

Não muito tempo depois, o secretário-geral Kofi Annan nomeou um painel de alto nível para recomendar mudanças nas Nações Unidas, uma medida vista parcialmente como uma tentativa para limitar a capacidade dos estados membros de actuarem unilateralmente.

Quando Annan apresentou a sua proposta de reforma em Março ultimo, afirmando que a queria ver aprovada na cimeira do sexagésimo aniversario da organização, não deixou duvidas de que um dos seus objectivos era limitar a possibilidade de acções unilaterais tais como a movimentação para derrubar Saddam Hussein.

“Penso que o argumento que está contido no relatório é muito claro: o de que vivemos num mundo interligado, num mundo onde enfrentamos muitos desafios, muitas ameaças – ameaças que nenhum país, embora poderoso, pode enfrentar sozinho – e que precisamos trabalhar juntos para conter essas ameaças....Por isso penso que o esforço colectivo de todos nos trabalhando juntos e do interesse nacional de cada um dos estados membros. Penso que uma efectiva e funcional Nações Unidas e do interesse dos Estados Unidos e do seu povo, assim como e do interesse dos outros países e dos seus povos.”

Quando foi interrogado numa posterior entrevista a BBC se considerava a invasão do Iraque ilegal, Kofi Annan respondeu que sim.

Tais palavras não caíram bem na administração Bush e em muitos no Congresso, que vêem a campanha no Iraque como sendo legal e apropriada.

O Congresso criou rapidamente o seu painel sobre reformas nas Nações Unidas chefiado pelo antigo líder da Câmara dos Representantes, Newt Gingrich, e o antigo líder da maioria do Senado, George Mitchell. Vários comités do Congresso lançaram investigações sobre alegações de corrupção no programa administrado pelas Nações Unidas de troca de petróleo por alimentos no Iraque. E o presidente Bush nomeou John Bolton, um critico aberto das Nações Unidas, para ser o seu embaixador na organização mundial.

Muitos observadores veteranos das Nações Unidas afirmam que tais tensões são provavelmente inevitáveis. O professor Edward Luck, da Universidade de Columbia, afirmou que embora a invasão do Iraque possa ter marcado o ponto mais baixo nas relações entre os Estados Unidos e as Nações Unidas, uma certa quantidade de fricção era esperada, devido ao que chamou de “assimetrias do poder” entre os Estados Unidos e outros países membros da ONU.

“No seu todo, o relacionamento dos Estados Unidos com a ONU é o mais turbulento em toda a sua historia. Os Estados Unidos tem sempre tido uma considerável ambivalência sobre a ONU. Em parte porque....para uma potência muito grande, integrar-se numa organização de 191 países é um pouco incomodo.”

Incomodo poderá ser, mas tanto amigos como adversários concordam que no fim, tanto os Estados Unidos como a ONU precisam um do outro.

Jan Eliasson tomou posse no principio de Setembro como presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, após cinco anos como embaixador da Suécia em Washington. Ele destaca o ponto de que as Nações Unidas servem um propósito vital no exercício da liderança dos Estados Unidos.

“Ninguém tem duvidas de que os Estados Unidos são hoje a superpotência dominante e isso é reconhecido em todo o lado. Espero que a superpotência entenda também que o multilateralismo é do seu interesse. Penso que a experiência do Iraque comparada com a do Afeganistão possa falar por si mesma. E espero que os Estados Unidos sejam, em linha com as suas tradições, um parceiro nos esforços internacionais.”

O antigo senador George Mitchell disse que o seu estudo das Nações Unidas financiado pelo Congresso chegou essencialmente a mesma conclusão. Ele não vê contradição entre os interesses dos Estados Unidos com os das Nações Unidas.

“Não se trata de um conflito. As aspirações fundamentais das pessoas em todo o lado são similares.....poderá haver desacordos tácticos limitados sobre como proceder em curto prazo, mas os valores e aspirações que os americanos tem são os mesmos de quaisquer outras pessoas.”

Tais desacordos como aquele sobre o Iraque levaram recentemente a criticas da organização mundial em alguns sectores da opinião publica dos Estados Unidos. Mas o professor Luck afirmou que apesar disso, as Nações Unidas desfrutam de um forte apoio da vasta maioria dos americanos.

“A mais recente sondagem Gallup mostrou que apenas 13 por cento das pessoas querem que os Estados Unidos abandonem as Nações Unidas......mas no final do dia, o publico sente que devemos cumprir as nossas obrigações, estar nas Nações Unidas, ser um bom cidadão internacional, mas ao mesmo tempo se os nossos interesses nacionais são tais que temos de votar sozinhos, não ficaremos embaraçados a fazer isso. Temos muita confiança nos nossos princípios e propósitos básicos como nação, por isso penso que continuaremos a ter uma relação difícil, mas nenhuma das partes se pode dar ao luxo de excluir a outra.”

O professor Luck afirma que a vontade dos Estados Unidos de “seguirem sozinhos” em matérias de principio e o que descreveu por “assimetrias do poder” significam que as relações com as Nações Unidas vão permanecer “muito delicadas”.

Contudo, uma vasta gama de analistas e diplomatas concorda que, apesar de 60 anos de pressões, as fundações desse relacionamento estão talvez mais sólidas do que nunca.

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