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Nubia continuou a ocupar o centro de gravidade


Apesar de ter que abrir as suas portas ao comércio dos árabes do Egipto nos termos do ”baqt”, o tratado de paz com os Emires do Egipto, em 652, a Nubia continuou a ocupar o centro de gravidade política e comercial do Vale do Nilo até a conquista final pelos exércitos mamelucos em 1315: Tomé Mbuia-João : A África Sudânica na História do Continente Africano.

Dizíamos numa das conversas passadas que até 642 o Islão tinha finalmente entrado no Egipto e assentado praça em Alexandria greco-romana para não sair. Restava todavia ainda muito caminho a percorrer para chegar a completar a conquista da cultura núbio-cristã, mais para o sul, ou mesmo da vetusta cultura que tinha dominado até aí o mundo greco-romano ocidental numa zona geográfica muito distribuída. A oeste do Egipto ficava o Magrebe dos Berberes - ainda por conquistar ao norte dali - noutro lado do Mediterrâneo restavam intactas ainda as Penínsulas itálicas a Sicília sobretudo e Ibéria onde existiam a Espanha e Portugal mas ainda não com estes nomes.

Cá para baixo ao sul de Alexandria do Egipto abria-se então longo e estreito o Vale do Nilo qual uma seta a apontar para o coração da vasta massa da terra africana lá para o lado dos Grandes Lagos a começar pela Nubia na altura - em 642 - herdeira natural dos grandes príncipes de Nepata e Méroe, Shasta, Shabaka, Piankhy e Taharca, e todos da serie antes e depois deles. O grande arrimo também da Nubia em 642 não era apenas este passado de glorias do passado e desafios aos faraós do norte, mas também o cristianismo monofisita florescente ali introduzido por Longinos desta mesma Alexandria que as hostes islâmicas acabavam de fazer sua. Nilo abaixo porém a ocupação desta Nubia pelas hostes muçulmanas não estava a ser nada coisa garantida.

Cristianismo à parte o perfil militarista dos núbios era mais do que uma lenda. É uma grande história. Dir-se-ia que agarra a atenção do leitor só ao pôr os olhos nela. Desde o principio os Nubios forçaram os generais muçulmanos a assinar um tratado de paz - o baqt em 652.O tratado que garantia porta aberta ao comércio da Nubia aonde os comerciantes árabes se empenharam desde logo na trata esclavagista, escravos para os mercados do Mediterrâneo, da Arábia e ainda para os seus haréns.

As relações entre o Egipto e a Nubia cristã continuaram, desde as primeiras horas com os Emires, em Damasco primeiro, Bagdade e Cairo depois dinastia apôs dinastia : Tulunidas, Fatimidas, Ayubidas até aos Mamelucos, sete séculos passados, marcados ora por intervalos de guerras intermitentes ora por períodos de calmia e de paz dos valentes, como que em corda bamba para não ignorar um a presença do outro. Entretanto, do lado de cá da Nubia, Merkurios, o Rei Merkurios adicionava em 697 à Nubia o antigo reino vizinho de Makuria, no centro, para dai a pouco um dos seus sucessores – Yoannes o seu nome, o Rei Yoannes estreitava a união regional pela ocupação de mais um reino vizinho, Alodia mais para o sul, enquanto para o norte - a Nobadia - que abria à Nubia o acesso para o Mediterrâneo, também aceitava a forma monofisita do cristianismo nubio.

A Nubia crescia - Islão ou não Islão - não apenas em numero de aderentes à sua forma de cristianismo mas ainda em actividades do género comercial e outras com os vizinhos dos quatro compassos da rede geográfica do Vale.

Diz-nos a história que as caravanas dos comerciantes nubios levavam as suas mercadorias em barcos ou camelos até as regiões onde mais tarde iriam surgir o Ghana e a Nigéria dos nossos dias, a oeste da linha cultural nilo-sahariana. Mas os beduínos também não cessavam a sua acção de penetração lenta mas certeira. Conversão e conquista através do comercio. Garantido. A ocupação da Nubia pelo Islão avançava aos poucos sendo apenas questão de tempo para ser um facto consumado. Tarefa que iriam cumprir os Mamelucos que acabavam de derrubar a dinastia ayyubida no Cairo em 1250.

Na Nubia, onde o caminho estava preparado, escolheram os Mamelucos para ocupar o trono dos monarcas monofisitas um príncipe nubio convertido ao Islão,1315. Data a recordar. Foi o fim. Mas esta história também tem seus pormenores.

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